quarta-feira, 6 de abril de 2011

Libia, OTAN e os Fundamentalistas Islamicos


01/04/2011
 às 20:55

Impasse na Líbia entre assassinos e patetas

O jornal britânico The Guardian informa que prosseguem as conversações entre representantes do regime de Muamar Kadafi e as potências ocidentais para tentar encontrar alguma solução para o conflito na Líbia. Ati Addul al-Obeidi, ex-primeiro-ministro e um dos negociadores de Kadafi, admitiu os esforços ao Canal 4.  Ontem, o jornal já havia informado que Mohammed Ismail, assessor de Saif al-Islam, o filho mais articulado de Kadafi e que serviu de porta-voz do pai junto ao Ocidente, havia se encontrado na quarta, em Londres, com autoridades britânicas.
A disposição para o diálogo, informa o jornal, se mostrou depois que a ONU enviou um representante a Benghazi para tentar negociar as condições de um cessar-fogo também com os rebeldes. Leiam isto:
“Nós estamos dispostos a um cessa-fogo desde que os nossos irmãos do Leste [as cidades sob o comando de Kadafi] tenham  liberdade de expressão e também desde que as forças [de Kadafi] que sitiam as cidades se retirem. Nosso objetivo é libertar e ter a soberania de toda a Líbia”.
Essas palavras são de Mustafa Abdul Jalil, um dos líderes rebeldes.
Muito bem! Como as palavras fazem sentido, o que o líder rebelde está pedindo é que Kadafi abra mão do seu único trunfo, já que se trata de uma guerra civil. Isso não é condição para cessar-fogo, mas exigência de rendição a quem está vencendo a guerra no momento. Kadafi vai perder? Vai! Para os EUA, França e Grã-Bretanha, não para os rebeldes.
Mussa Ibrahim, o porta-voz do governo, afirmou que as forças de Kadafi não deixarão as suas posições: “Eles estão nos pedindo para sair das nossas próprias cidades… Se isso não é loucura, não sei o que é. Somos nós o governo, não eles”. E lembrou  que, na semana passada, os rebeldes chegaram às portas de Sirte, avançando “por quase 600 km, sob a cobertura aérea da coalizão”. E emendou: “Se nosso Exército seguir por um quilômetro, denunciam o fato como um desastre e um crime”.
Até o porta-voz de um regime historicamente assassino pode ter razão quando enfrenta um bando de patetas. É impressionante! Tentem matar Kadafi logo de vez e parem de conversa!
Por Reinaldo Azevedo





03/04/2011
 às 7:19

Como dar um apoio entusiasmado àquilo que nos destrói. Ou: Não contem para o Jabor!

Ai, ai…
A Otan se atrapalhou ao impor a “zona de exclusão aérea” e, supondo que alvejava forças terrestres de Kadafi, acabou matando um grupo de rebeldes. Vocês certamente leram a respeito. Isso aconteceu no meio do deserto. Imaginem o que não se dá com civis num bombardeio “cirúrgico”, no meio de Trípoli… Eu sei que há erros em guerras, os danos colaterais etc. Mas, que eu saiba, ninguém declarou guerra à Líbia. Trata-se de uma operação para proteger civis, certo? Obama já vai deixando a categoria do patético para se tornar um líder grotesco. Não por causa do erro da Otan em si, claro!
Vamos ali pro Afeganistão e depois voltamos à Líbia. Mais nove pessoas morreram ontem nos protestos contra os EUA. Seriam uma reação à queima de um exemplar do Corão promovida pelos pastores Wayne Sapp e Terry Jones. Uma ova!!! Nego-me a tratar as coisas dessa maneira porque isso significaria considerar que aquela gente está apenas “reagindo” a uma agressão, como se os dois fossem os reais responsáveis pelos atos terroristas. Não!
Isso é análise política à moda Arnaldo Jabor, segundo quem Bush é só um Osama Bin Laden cristão. Obama, não! Obama é um Kant tentando articular a paz perpétua global. Santo Deus! Os tais pastores são delinqüentes, cretinos, idiotas, vagabundos, irresponsáveis, primitivos, toscos, canalhas? Cada um escolha o xingamento que quiser. Ou todos. Mas quem promoveu os atos extremistas no Afeganistão foi o Taliban, não eles. Nos EUA, é permitido queimar a Bíblia, o Corão, a bandeira americana, a Playboy…  Como vimos ontem, é permitido até agradecer a Deus pela morte de soldados americanos no… Afeganistão! E não precisa ser muçulmano para isso. Os lunáticos que o fazem se dizem cristãos!
CERTAMENTE NÃO É A MELHOR COISA A SE FAZER COM A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E COM A LIBERDADE RELIGIOSA. MAS JUSTAMENTE PORQUE EXISTE A LIBERDADE DE SE FAZER O PIOR, NÃO EXISTE UM ESTADO QUE OBRIGA A FAZER O MELHOR.
Quem não entende o sentido do que vai acima em negrito e maiúsculas — GRITADO, diriam alguns — não sabe o que é democracia. Isso vale nos EUA, no Brasil e, tomara!, valerá um dia no Afeganistão! Se é que eles vão aprender alguma coisa com o Ocidente. Por enquanto, parece que há gente no Ocidente querendo aprender com eles.
No dia em que o Brasil ou os EUA proibirem manifestações como essa, por mais estúpidas que sejam — ou em que só se puderem emitir as opiniões consideradas honradas e boas —, Brasil e EUA estarão mais próximos do que há de pior no Afeganistão, mas o Afeganistão não estará mais próximo do que ainda restar de melhor no Brasil e nos EUA…
São dias estúpidos!
A patrulha politicamente correta tenta nos deixar um pouco mais parecidos com o Afeganistão e se esforça para ignorar as evidências de que a “Primavera Árabe” pode ser apenas o início de um tenebroso inverno. Encerro reproduzindo um trecho da reportagem de VEJA desta semana, de Diogo Schelp, intitulada “Uma causa suspeita”. Leiam com atenção. Mas escondam do Clóvis Rossi ou do Jabor. Ou  o primeiro escreve mais um artigo defendendo um pouco mais de “utopia” no mundo, e o segundo faz uma metáfora nova.
(…)
O governo americano enviou espiões da CIA à Líbia para descobrir quem são, afinal de contas, os rebeldes líbios. Em depoimento ao Senado, o almirante James Stavridis, comandante militar da Otan, deu uma pista: segundo ele, há informações de que membros da rede terrorista Al Qaeda e do grupo libanês Hezbollah estão participando do levante. Outras organizações radicais muito populares entre os habitantes do leste do país, onde se iniciou o movimento anti-Kadafi, são o Grupo Islâmico de Combate Líbio, cujos integrantes lutaram contra os Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque, e a Irmandade Muçulmana, com raiz no Egito. No início de março, a reportagem de VEJA visitou um hospital da Irmandade Muçulmana, no Cairo, e encontrou oito rebeldes líbios recebendo atendimento gratuito para cuidar de ferimentos de combate. Em fevereiro, Yusuf ai Qara-dawi, guia espiritual da Irmandade Mu çulmana, decretou uma fatwa obrigando qualquer soldado líbio a matar Kadafi, se surgir a oportunidade - um indício de que o grupo islâmico espera obter dividendos políticos com a que da do ditador.
A Al Qaeda é mais explícita. Na semana passada, o clérigo americano Anwar ai Awlaki, integrante do grupo terrorista no lêmen, divulgou um artigo na internet em que comemorava o fato de os governos do Ocidente não estarem dando a devida atenção à intensa participação de jihadistas nas manifestações que incendeiam o Oriente Médio desde o início do ano. Awlaki deixou claro que os defensores da criação de estados islâmicos só têm a ganhar com o fato de que, na atual fase dos protestos, haja muçulmanos com idéias seculares que conseguem convencer o Ocidente do caráter democrático dos levantes árabes. A Otan, portanto, está dando apoio militar na Líbia a  inimigos do Ocidente. Falta descobrir se eles compõem 5%, 50% ou 99% das fileiras rebeldes.
Por Reinaldo Azevedo



03/04/2011
 às 17:35

É para estes civis que Barack Obama, que veio nos livrar das garras de Bush, quer fornecer armas!!!

Al-Zwei (esq.) e Al-Madhouni, veteranos da guerra afegã: levando "democracia" para a Líbia (foto: Lourival Sant'Anna)
Al-Zwei (esq.) e Al-Madhouni, veteranos da guerra afegã: levando "democracia" para a Líbia (foto: Lourival Sant'Anna)
É, foi difícil - está sendo… -, mas, aos poucos, a imprensa mundial, também a brasileira, vai descobrindo que há mais mistérios na “Primavera árabe” do que a mobilização pelo Facebook. Essa besteira, aliás, entrará para a História Universal do Cretinismo. Como sabem, desde o primeiro dia, eu indagava sobre a Líbia: “De onde apareceu tanto fuzil nas mãos de civis benignos?” Ou: “De onde apareceu tanta caminhonete?”. Ou ainda: “De onde apareceu tanta bateria antiaérea?” Sem pôr os pés de Benghazi - no máximo, fui até padaria comprar cigarros, o que é errado, eu sei -, andei fazendo aqui alguns questionamentos. Acusaram-me até de ser simpático a Muamar Kadafi, o amigo, irmão, camarada de Lula! Eu, hein!!!
Escrevi a respeito num post desta manha. O Estadão traz uma hoje matéria muito interessante de Lourival Sant’Anna, que está na Líbia. Ele fala com dois “civis” que estão lutando contra Kadafi. Leiam trecho. E não se esqueçam: é pra essa turma que Barack Obama, aquele que veio para livrar o mundo das garras do terrível George Bush, quer fornecer armas e treinamento.
*
Os combatentes rebeldes são chamados de “shebab”, que em árabe significa jovens. A maioria deles não passa disso: jovens idealistas, muitos universitários de classe média, cujos pais bem relacionados os pouparam até do serviço militar obrigatório e, por isso, nunca pegaram em uma arma antes. Quando os foguetes começam a cair perto deles, sobem no carro e fogem apavorados.
Em contraste, há um pequeno grupo de homens na casa dos 40 anos, de barba espessa, rostos enrugados e olhar de quem já viu outras guerras. Eles avançam sob a barragem de foguetes sentados nos bancos de suas peças de artilharia montadas sobre carrocerias de caminhonetes, disparando os canhões de 14,5 ou 23 milímetros e gritando: “Allah-u-akbar”, (Deus é grande). Eles não têm medo da morte, suas armas não são páreo para os foguetes das brigadas de elite de Muamar Kadafi, mas sabem o que estão fazendo.
São líbios veteranos do Afeganistão, que agora lutam a jihad em seu próprio país, depois de terem passado parte de sua vida no exílio ou na temida prisão de Abu Salim, em Trípoli, que Kadafi reserva aos dissidentes. São os homens do Al-Jamaa al-Islamiya al-Mokatila, ou Movimento Combatente Islâmico, que está na lista da ONU de organizações terroristas internacionais e é considerada, no Ocidente, a filial da Al-Qaeda na Líbia.
Dois de seus líderes voltaram do exílio recentemente e concordaram em falar ao Estado, em sua primeira entrevista na Líbia, e também a primeira em que deram seus nomes e se deixaram fotografar. “Chega de nomes de guerra”, disse Abdul Manem al-Madhouni, de 41 anos, no único momento em que quase esboçou um sorriso. “Está tudo acabado”, completou, referindo-se a Kadafi, que foi alvo de quatro tentativas de assassinato do Al-Mokatila, entre 1994 e 1997, uma vez por ano.
O ditador reprimiu violentamente o movimento, com o objetivo de esmagar qualquer organização opositora. Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, o ditador passou a usar a repressão em favor de sua reabilitação no Ocidente, assumindo o papel de dique contra a expansão da Al-Qaeda no Norte da África.
Exílio iraniano. Al-Madhouni voltou do Irã, onde viveu nos últimos nove anos e meio - sete anos e meio dos quais em prisão domiciliar, de acordo com ele por ter entrado ilegalmente no país, vindo do Afeganistão, no calor dos atentados de 11 de Setembro.
Abdullah Mansour al-Zwei, de 42 anos, hesita em dar seu nome, porque pretende voltar à Grã-Bretanha, onde se exilou depois do atentado ao World Trade Center, também vindo do Afeganistão e do Paquistão. No entanto, acaba cedendo. “Esse é o meu nome verdadeiro, não como sou conhecido lá.” Ambos são do conselho de 12 integrantes que dirige o movimento. Eles foram para o Afeganistão em 1989, quando tinham cerca de 20 anos, para lutar na jihad contra os invasores soviéticos, no fim da guerra que durou dez anos.
Al-Maddhouni e Al-Zwei chegaram ao Afeganistão alguns meses antes da criação da Al-Qaeda. Admitem que conviveram com Osama bin Laden e lutaram lado a lado com ele. “Viajei com Bin Laden de Jeddah, na Arábia Saudita, para o Paquistão”, recorda Al-Zwei, que estudou teologia islâmica na cidade saudita de Medina. “Ele era um homem normal, apenas rico, que ajudava as famílias dos combatentes.”
Lista do terrorA Al-Qaeda seria formada meses depois, com esse propósito. “Nós rezávamos do lado dele na mesquita, como qualquer outro”, completa Al- Maddhouni, que estudou teologia e assuntos militares tanto no Paquistão como no Afeganistão.
Eles dizem que se reuniram “muitas vezes” com Bin Laden, “todas antes do 11 de Setembro”. Segundo contam, eles não se aliaram à Al-Qaeda porque consideravam que deviam concentrar sua luta na Líbia, e não abraçar a causa contra os Estados Unidos. Após a derrota dos soviéticos, ambos continuaram por mais 12 anos no Afeganistão, onde tinham campo de treinamento, armas e segurança. Aqui
Por Reinaldo Azevedo



03/04/2011
 às 17:59

Os fundamentalistas islâmicos aprenderam que, com o discurso da moderação, terão os aviões de Obama para ajudá-los a chegar ao poder

Lourival Sant’Anna, do Estadão, entrevista o xeque Mohamed Bossindra, que ficou 21 anos preso na Líbia. Foi solto num movimento de abertura política promovida por Seif al-Islam, aquele filho de Kadafi, o carequinha, que vivia dando entrevistas. Estava sendo preparado para se apresentar como a face mais limpa e moderna dos Kadafi, possível sucessor do pai, não fosse a revolta. Os eventos da Líbia, ao contrário do que dizem por aí, deixam aos demais autocratas uma mensagem terrível: “Abram o regime e vocês vão ver o que vai acontecer”…
Bossindra atua, informa Sant’Anna, como um intermediário entre os líderes laicos da “revolução” e os fundamentalistas islâmicos. Reproduzo um trecho do texto. Volto em seguida com uma questão bem interessante.
*
O xeque Mohamed Bossidra tem 54 anos. Desses, passou 21 na prisão de Abu Salim, em Trípoli, entre 1989 e 2009 (sem contar outros seis meses em 1986 e três em 1987). Foram dez anos na solitária. “Sofri todos os tipos de tortura”, diz Bossidra, que foi solto como parte da suposta abertura política promovida por Seif al-Islam, filho de Muamar Kadafi, que o preparava para sucedê-lo. Agora, o xeque atua como mediador entre o Conselho Provisório Líbio, de orientação predominantemente laica, e os fundamentalistas islâmicos, unidos na luta contra Kadafi.
Bossidra pertencia ao grupo fundamentalista islâmico Tablir (Mensagem), fundado em 1926 na Índia por missionários dedicados a “conduzir os muçulmanos ao caminho da retidão”. Deixou o grupo e não aceitou cargo no governo transitório. “Agora, prefiro me apresentar como independente, para que mais pessoas ouçam meus conselhos”, disse. Como em outros países muçulmanos sob ditaduras laicas, os fundamentalistas islâmicos lutam contra o regime na Líbia. “Kadafi é a representação do mal”, define o clérigo.
O sofrimento em Abu Salim não abrandou suas convicções políticas e religiosas. Ele passou o tempo decorando o Alcorão, escrevendo quatro livros e centenas de artigos com orientação política e religiosa, passados de mão em mão entre os prisioneiros. Os diretores do presídio o mandavam para a solitária quando achavam que estava exercendo influência demais sobre os presos. À pergunta sobre como enfrentou a dor, Bossidra responde com simplicidade. “Nós muçulmanos acreditamos que só nos acontece o que tem de acontecer.”
“A sociedade líbia não se adaptaria a um regime teocrático”, afirma o xeque, ao delinear seu projeto político. “Mas defendo um Estado que obedeça aos princípios do Islã.” Ele prefere não entrar em detalhes, porque considera que o momento é de unir os líbios de todas as correntes políticas em torno do objetivo comum de derrubar Kadafi. Íntegra Aqui
VolteiLeiam, posts abaxo, uma entrevista que Duda Teixeira, da VEJA, fez com Esam El-Erian, porta-voz da Irmandade Muçulmana, do Egito. A exemplo de Bossindra, ele também quer um governo islâmico no Egito; a exemplo de Bossindra, ele também diz que a hora é de “união”; a exemplo de Bossindra, ele também não dá detalhes sobre como seria esse governo islâmico.
Os fundamentalistas aprenderam, em suma, que o discurso da moderação é o caminho mais curto para chegar ao poder. Com a ajuda dos aviões de Barack Obama, Nicolas Sarkozy e David Cameron.
Por Reinaldo Azevedo

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