domingo, 5 de junho de 2011

Anatomia da corrupção

ANATOMIA DA CORRUPÇÃO: Não esqueçam do BDI! 06/06/2011

Posted by linomartins in Auditoria.

A Edição 2220 da revista VEJA datada de 8 de junho de 2011 contem matéria interessante intitulada “A anatomia da corrupção” e faz referencia a um relatório da Policia Federal que mostra como espertalhões desviam e desperdiçam o suado dinheiro dos brasileiros.

A reportagem trata basicamente do superfaturamento ilegal esclarecendo que a PF efetuou o confronto entre os preços de mercado e os preços cotados com base em pesquisas realizadas.

Este Blog não teve acesso ao referido relatório mas é muito estranho se o mesmo não incluir outras questões que deveriam preocupar muito mais os que defendem a lizura e a ética que deve (ou deveria) prevalecer entre os representantes do Poder Público e os fornecedores e empreiteiros de obras públicas.

Estamos nos referindo ao indijesto BDI (Beneficios e Despesas Indiretas) que, certamente, produz os maiores estragos na gestão e controle dos recursos públicos. O pior é que na maioria das vezes os órgãos de controle interno e externo se omitem quando administradores defendem a sua manutenção sob o falso argumento de que sem o BDI as obras perdem qualidade (sic).

Este Blog sugere que, tanto os representantes da Policia Federal, como os repórteres da Veja, revisitem o denominado “O Livro Negro da Corrupção” que recentemente ressurgiu como e-book no site Museu da Corrupção. A obra, que integra o acervo da Biblioteca de Washington, chega à web na íntegra em formato PDF, com a permissão de seu autor, o advogado Modesto Carvalhosa e introdução de Marcio Moreira Alves. Nela, figuram casos emblemáticos de malversação do dinheiro público e escândalos como o de PC Farias e o Relatório da CEI sobre corrupção na Administração Pública Federal.

No referido livro verifica-se na página 442 o seguinte texto que comprova a continuidade em 2011 da mesma situação da superavaliação dos preços constantes da tabelas em relação ao preço de mercado:

“A análise dos preços unitários de 123 contratos de obras de restauração, de responsabilidade do DNER indicou que os preços contratuais excedem os preços SICRO em média, em cerca de 30%”

Como o antigo DNER mudou de nome é possivel que esta tenha sido uma solução como vem ocorrendo desde sempre ou seja em casos de corrupção demite-se os culpados e providencia-se uma reforma administrativa, para que tudo continue como dantes e os contratos permaneçam com o BDI para alegria e felicidade de todos.

Os órgãos de controle interno e externo, por sua vez, preferem sempre esperar a ocorrencia do fato concreto para que auditorias e providencias enérgicas sejam adotadas.

http://www.youtube.com/watch?v=pLDiifDpFKQ

Anatomia da corrupção

Cientistas provam que existe um elo causal entre poder e corrupção. Descobriram isso ao analisar o comportamento de um grupo de jovens submetidos a vários testes

Por Álvaro Oppermann

Existe um elo entre poder e corrupção? Dois cientistas holandeses e um americano tentam provar que sim. Os psicólogos Joris Lammers e Diederik A. Stapel, da Tilburg University, de Amsterdã, e Adam Galinsky, da Northwestern University, de Illinois, identificaram um elo causal entre poder, status, hipocrisia e corrupção no cérebro e no comportamento humanos. Até hoje essa relação não tinha sido comprovada cientificamente.

A pesquisa, publicada na revista Psychological Science sob o título Power Increases Hypocrisy: Moralizing in Reasoning, Immunity and Behavior (“O poder aumenta a hipocrisia: moralismo na razão e imoralidade na conduta”), destaca-se entre uma onda de trabalhos recentes sobre corrupção. A maioria afirma tratar-se de um mal que não se consegue extirpar por decretos ou sanções. Mas e se formos capazes de entender o que leva o ser humano a se corromper?

Na pesquisa, os cientistas submeteram 150 estudantes holandeses a dilemas morais e comportamentais. Na primeira etapa, os psicólogos pediram a eles que recordassem, e escrevessem, uma situação na qual detinham poder, ou então na qual estivessem privados dele. “Psicologicamente, a lembrança vivenciada fez o pesquisado assumir a identidade de poderoso ou não poderoso”, diz Galinsky. Assumidos os papéis, começaram as surpresas. No primeiro teste, depois de responder a um questionário inócuo, os pesquisados foram encorajados a jogar um par de dados. O resultado seria correspondente ao número de rifas de um sorteio que se realizaria ao fim da pesquisa. Embora não soubessem, esse era o verdadeiro teste. O participante jogava os dados numa sala privada, em segredo.

Para especialistas, transgressão não acaba por decreto ou sanção.
Mas e se entendermos o que leva o homem a se corromper?


Os poderosos trapacearam muito mais do que os não poderosos. Depois, foi proposto ao grupo que julgasse um funcionário que tivesse maquiado as despesas de uma viagem de negócios para embolsar a diferença. Nesse caso, em que a reputação pessoal não estava em jogo, os poderosos mostraram-se mais duros com o funcionário. “O poder faz aumentar a hipocrisia pessoal”, disse Lammers. Torna o sujeito mais rígido em seu julgamento dos outros, mas ao mesmo tempo leniente consigo mesmo na hora de burlar as mesmas normas.

É da assimetria entre direitos e responsabilidades, observam os pesquisadores, que nasce a impunidade, um problema global. No livro Economic Gangsters (“Gângsteres econômicos”), os autores, Raymond Fisman e Edward Miguel, mostram que gângster não é só o narcotraficante mas também o diplomata da ONU que usa sua imunidade para estacionar em fila dupla em Manhattan. Já o especialista em governança corporativa americano Sridhar Ramamurthy criou o triângulo da fraude para explicar a corrupção. Na base, existe o desejo de ter algo. Depois vem a oportunidade de consegui-lo por meios ilícitos. E da oportunidade surge a racionalização: “Não é tão grave assim”. “São problemas de transparência e responsabilidade”, diz Galinsky.

A pesquisa identificou um fenômeno inverso entre os não poderosos: o excesso de autocrítica. “Eles se mostraram mais rígidos consigo mesmos do que com os outros”, disse Lammers. Isso só faz aumentar a espiral da desigualdade, já que o poderoso se acha livre para fazer o que quer. E o não poderoso é tímido demais para criticar, o que cria um círculo vicioso.


Ilustração_Artnet e Paola Lopes
VANTAGEM EM TUDO
Num jogo de dados, quando não monitorados, os participantes descritos como poderosos obtiveram, em média, 72 pontos. Os não poderosos, 59. Ao serem monitorados, a pontuação de ambos ficou em 50. “Os poderosos se mostraram mais desonestos”, dizem os pesquisadores

AUTOCENTRISMO
Os pesquisadores pediram aos dois times que escrevessem a letra “E” com pincel atômico na própria testa. Os não poderosos tiveram a tendência de escrevê-la corretamente, própria à leitura das outras pessoas. Os poderosos escreveram em geral a letra invertida, como eles a liam no espelho. “O poder gera autocentrismo”, diz Galinsky

COMPLACÊNCIA
Na hora de julgar os outros, os poderosos são mais duros. Quando julgam a si mesmos, são mais tolerantes, mostrou o teste. Perguntados como julgariam uma pessoa que mantivesse para si uma bicicleta roubada, a resposta dos poderosos variou: acharam a conduta “levemente reprovável”, se fossem eles os contraventores, e “altamente reprovável”, se fosse outra pessoa. No caso dos não poderosos, os resultados se inverteram

DIMINUIÇÃO DA EMPATIA
Os psicólogos solicitaram que os participantes identificassem as emoções expressas em desenhos de rostos humanos, como felicidade, tristeza, medo e raiva. Os não poderosos conseguiram enxergar com muito mais exatidão as emoções do que os poderosos. “O poder pode ser um inibidor da empatia”, diz Joris Lammers