quinta-feira, 16 de junho de 2011

Guerra na Líbia regressa à agenda republicana

Muammar al-Gaddafi

Muammar Abu Minyar al-Gaddafi (em árabe: معمر القذافي, transl. Loudspeaker.svg? Muʿammar al-Qaḏḏāfī; Surt, 7 de junho de 1942) é um político, poeta, filósofo e guerrilheiro líbio e o chefe de estado da Líbia desde 1969.

Na qualidade de presidente do conselho da revolução, nacionalizou a indústria do petróleo e converteu-se no primeiro representante do pan-islamismo. Nas décadas de 1970 e 1980, apoiou diversos grupos islâmicos de libertação nacional no Terceiro Mundo.

O nome do líder líbio é escrito de várias maneiras diferentes devido a dificuldades da transliteração da língua árabe e também da pronúncia regional da Líbia. As muitas grafias possíveis no alfabeto latino são, para o primeiro nome, "Muamar", "Muammar", "Mu'ammar" e "Moammar" e, para o sobrenome, "Cadáfi", "Cadafi", "Kadafi", "Gadhafi", "al-Khaddafi", "al-Qadhafi" e "al-Khadafi". O próprio comandante líbio parece preferir "Moammar El-Gadhafi", "Muammar Gadafi" ou "al-Gathafi".

Infância e juventude

Cadafi, pertencente a uma tradicional família líbia, teria nascido em uma tenda no deserto líbio, próximo à cidade líbia de Surt. Teve contato com beduínos comerciantes que viajavam pela região de Surt, com quem adquiriu e formou suas precoces posições políticas.

Ainda criança, Cadafi foi enviado a uma rígida escola, onde passou anos longe de seus pais. Lá, destacou-se em matemática, em literatura e em geografia.

Depois de terminar a primeira etapa de seus estudos, Cadafi, aos dezessete anos, iniciou a carreira militar. Integrou a academia Militar de Benghazi, segunda principal cidade do país e também integrou a Real Academia Militar (The Royal Military Academy) em Sandhurst, na Inglaterra. No primeiro ano do curso superior, formou um clube de opositores ao governo de Idris I, que, cada vez mais, vinha autorizando a entrada de estadunidenses na Líbia, atitude que Cadafi abominava.

Tomada do poder

Rei Idris I da Líbia, deposto por Cadafi

No ano de 1969, o governo do rei Idris I passava por uma crise de impopularidade, pois grandes quantidades de petróleo líbio estavam sendo utilizadas pelos Estados Unidos sem qualquer compensação à Líbia. Admirador do líder egípcio e nacionalista árabe Gamal Abdel Nasser, Muamar Cadafi, aos 27 anos de idade, foi membro das tropas revolucionárias que tomaram o governo do país no dia 1º de setembro de 1969, tendo, como líder, Mahmud Sulaiman al-Maghribi. Coronéis do exército líbio invadiram Trípoli e obrigaram Idris a renunciar.

Logo após o golpe de estado, Al Magrabbi saiu de cena e Cadafi, como líder da revolução líbia, com a patente de coronel, tomou o poder, substituindo o príncipe regente Ridah e o rei ausente (licenciado para fins médicos na Grécia e no Egito), Idris I, tio de Ridah.

Uma vez instalado no governo do país, Cadafi declarou ilegais as bebidas alcoólicas e os jogos de azar. Exigiu e obteve a retirada estadunidense e inglesa de bases militares, expulsou as comunidades judaicas e aumentou a participação das mulheres na sociedade. Além disso, retirou da Líbia todos os estadunidenses vindos através da aliança entre Idris I e os Estados Unidos, fechou danceterias, bordéis e bares instalados pelos estadunidenses, impondo a toda Líbia o respeito aos preceitos morais do islamismo. Proibiu a exportação de petróleo para os Estados Unidos e confiscou propriedades internacionais.

Cadafi (à esquerda) e Gamal Abdel Nasser, o presidente do Egito (à direita). Em seu primeiro ano na presidência, Cadafi estabeleceu forte aliança com o governo de Nasser.

Pouco tempo depois, em 1970, morreu Gamal Abdel Nasser. Inconformado, Cadafi começou a patrocinar e a apoiar todos grupos, países e facções antiestadunidenses ou anti-israelenses de que tinha conhecimento, entre eles os Panteras Negras, o Fatah e alguns países do Oriente Médio, tentando dar continuidade ao trabalho de Nasser, que tanto admirara. Cadafi teve, inclusive, ligação direta com o massacre de Munique, realizado no dia 5 de setembro de 1972, durante os jogos Olímpicos, patrocinando e dando cobertura ao grupo que ficou conhecido como Setembro Negro. Onze atletas israelenses foram assassinados nesse episódio.

Atuação como presidente

Em seu Livro Verde, lançado na década de 1970, Cadafi expôs sua filosofia política, apresentando uma alternativa nacional ao socialismo e ao capitalismo, combinada com aspectos do islamismo. Em 1977, criou o conceito de Jamahiriya ou "Estado das massas", em que o poder é exercido através de milhares de "comitês populares".

Em 1982, como medida punitiva ao suposto patrocínio líbio a grupos terroristas, o governo estadunidense proibiu a importação de petróleo da Líbia. Em 1986, após um atentado a bomba numa discoteca de Berlim, quando morreram dois cidadãos estadunidenses, os Estados Unidos lançaram ataques aéreos contra Trípoli e contra Benghazi e impuseram sanções econômicas contra o país. No final da década de 1980, o governo líbio foi acusado de envolvimento nos atentados contra aviões da Pan Am e da Union de Transports Aériens, o que motivou a imposição de sanções também pela ONU, em março de 1992.

Após sua mulher e sua filha morrerem durante o bombardeio estadunidense a Trípoli, Cadafi distanciou-se superficialmente de suas alianças com grupos terroristas.

Em 1992 e 1993, a Organização das Nações Unidas impôs sérias sanções à Líbia, acusando seu líder de financiar o terrorismo pelo mundo. Essas sanções foram suspensas em 1999.

Com o embargo econômico, juntamente com a queda de preço do petróleo nos mercados internacionais, a situação econômica do país deteriorou-se rapidamente, aumentando o descontentamento popular. Em 1993, um grupo de altos oficiais do exército liderou uma tentativa de golpe de estado, prontamente debelada pelo regime. Mais de 1 500 pessoas foram presas e a cúpula militar foi completamente reestruturada.

Em 1998, o chefe de estado líbio sofreu um atentado. Foi baleado, tendo sido operado às pressas. A nova tentativa de golpe também fracassou e o regime foi mantido.

Na década de 2000, Cadafi pagou integralmente indenizações às famílias dos mortos pelo atentado de Lockerbie. Na mesma década, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, disse ter desmantelado o arsenal nuclear líbio.

Muamar Cadafi e o ex-presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva, durante uma conferência naNigéria, em 2006.

Em 2003, Cadafi anunciou que desistira das armas de destruição em massa e que pretendia juntar-se à guerra ao terror, eixo da política externa estadunidense durante o governo Bush. Logo depois, George W. Bush suspendeu as sanções contra a Líbia. Em seguida, os produtores de petróleo dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha expandiram suas atividades no país. Empresas como BP, Exxon,Halliburton, Chevron, Conoco e Marathon Oil juntaram-se a gigantes da indústria bélica, como Raytheon e Northrop Grumman e a multinacionais como Dow Chemical e Fluor bem como à poderosa firma de advocacia White & Case para formar a US-Libia Business Association, em 2005.


Em maio de 2006, a Líbia saiu da "lista negra" (de embargos econômicos) dos Estados Unidos.

Muamar Cadafi é um dos líderes mundiais que está há mais tempo no poder (desde 1969). Desde 2 de março de 1977, instaurou a "Grande Jamahiriya Árabe Líbia Popular e Socialista", nome que recebe oficialmente o estado líbio. Jamairia (em árabe: ﺟﻤﺎﻫﻴﺮﻳﺔ) é um neologismo, geralmente traduzido como estado ou república das massas.

Em 2011, no bojo das revoltas sociais no norte da África, Cadafi sofreu um ataque revolucionário por parte da oposição líbia e, em um sinal de ruptura com o governo, a delegação da Líbia na ONU acusou Cadafi de genocídio e fez um apelo por sua renúncia. Diversas autoridades, inclusive o ministro da justiça, Mustafá Abdel Yalil e diplomatas em diferentes países, renunciaram, em protesto contra o uso excessivo de força na repressão das manifestações. Diplomatas que representavam o governo de Cadafi na República Popular da China, na Índia e na liga Árabe deixaram seus cargos em protesto ao governo. De acordo com a organização estadunidense Human Rights Watch, os protestos na Líbia deixaram, pelo menos, 233 mortos. Há relatos de que, em apenas um dia, 160 manifestantes teriam morrido. Após a renúncia das autoridades, Saif el-Islam Kadafi anunciou a criação de uma comissão para investigar episódios violentos durante os protestos. A comissão seria dirigida por um juiz e incluiria membros de organizações de direitos humanos líbias e estrangeiras. Uma coalizão de líderes muçulmanos líbios emitiu uma declaração dizendo que era obrigação de todo muçulmano se rebelar contra o governo líbio.

Devido a indícios de crimes contra a humanidade cometidos pelas tropas do governo contra os rebeldes e civis líbios nas áreas de insurreição e combate em 16 de maio de 2011, Luis Moreno-Ocampo, procurador-chefe do tribunal Penal Internacional sediado em Haia, solicitou mandato internacional de captura e prisão contra o líder líbio, por crimes contra a humanidade.