sábado, 14 de janeiro de 2012

As Drogas e a Liberdade

Vamos a questão das drogas, este é um tema muito sério no caminho magistico.
O uso de plantas de poder é uma coisa.
O uso de drogas químicas é outra coisa.
O uso de plantas de poder fora do contexto profundo do xamanismo é outra coisa ainda.
Precisamos começar delineando isso.
LSD, Cocaína, Heroína, Anfetaminas e outros produtos da indústria química são resultantes de construção química de substâncias que interferem no funcionamento normal de nosso
cérebro e sistema nervoso. Provocam um colapso em nosso sistema nervoso e isto pode levar o primeiro anel de poder e interromper sua atividade ativando o segundo. Entretanto o preço que se paga para isso, vale a pena?
Mas primeiro: Estas entradas fortuitas e descontroladas na segunda atenção nenhum benefício trazem, muito pelo contrario, podem mesmo confundir uma pessoa e criar patologias psíquicas e físicas das mais diversas. As pessoas às vezes estão tão enfastiadas de seu dia a dia, tão perdidas na confusão que se meteram que acabam procurando caminhos de "esquecimento".
É para isso que servem as drogas químicas e o uso da maconha nos meios comuns, as pessoas querem "viajar", querem "esquecer os problemas", querem "ficar livres", mas só isso.
Notem que a proposta xamânica e mágica do uso de plantas de poder é outra. Os (as) xamãs sempre usaram plantas de poder para estar mais amplos, mais conscientes, para ir em busca de visões e sinais, portanto nunca para "fugir" da realidade no sentido de negá-la, mas sim ir além da realidade, no sentido de ampliarem-se.
Segundo ponto inconveniente: Causa males enormes a saúde.
Ora, a prática de caminhadas constantes, de exercícios físicos, de uma alimentação sadia, dos exercícios de Tensigridade ou similares tem como objetivo fortalecer o corpo, os (as) xamãs insistem que precisamos estar saudáveis para o que vamos realizar no mundo do poder, que o corpo deve estar forte e flexível, que precisamos de "vísceras de aço".
É então total contra senso fazer uso de substâncias que destroem a saúde com a pretensão de provocar estados visionários, estados cheios de ilusão que servem aos que tem preguiça e não querem de fato transcendência, mas só algum "agito" a suas vidas rotineiras.
Eu tenho uma pesquisa vasta sobre o tema, coisa que ainda está em andamento e pretendo publicar um dia minhas conclusões sobre esta questão que não é algo simples nem superficial, pois o grau de consumo de drogas na nossa sociedade é impressionante e o mais preocupante, grande parte das pessoas que entram nesse caminho são justamente as pessoas com mais energia e mais potencialidades num grupo.
Já notaram isso?
As pessoas mais brilhantes e interessantes de um grupo social acabam entrando nestes caminhos e  em grande parte acabam tendo efeitos que mexem com toda a vida delas.

A pergunta é: Que futuro vão ter? Em termos de saúde psíquica e física?

Noto como é inócuo e quase ineficiente toda a campanha oficial de combate as drogas, pois os que tem a tendência para usar criam barreiras a quaisquer doutrinações e cada pessoa que vem falar contra já é catalogado como careta e os ouvidos se tornam moucos a seus
argumentos.

Vem a questão colocada por Gurdjieff: Temos que ter consciência para ampliá-la.

A maconha que as pessoas fumam é plantada num lugar ilegal, colhida por pessoas que tem como única meta: ganhar dinheiro; é traficada por gente que usa da violência como expediente normal.
Que energia estava impregnada nesta planta que usam?

Assim o uso indiscriminado, para apenas "viajar" que muitos fazem uso de tais substâncias revela que nestes casos não estamos lidando com uma abordagem de "poder" de tal planta, mas apenas mais um sintoma de uma sociedade em crise, em desagregação, em decadência que corrompe tudo que toca.

Temos assistido a desvirtualização do uso do Runipan, que chamam de Ayahuasca, com o cacto de São Pedro, com o Peyote e tantas outras plantas de poder que agora são usadas por grupos de pessoas que pretendem um "transe" coletivo, que anseiam por sair desta realidade consumista e degradante, para a qual, no entanto voltam sempre que o efeito da planta passa. Se olharmos com atenção para tais pessoas e grupos notamos que apenas se enchem com mais ilusão e fantasia e assim tornam ainda mais difícil o caminho da Liberdade.
Este o principal problema com o uso de plantas de poder, usá-las e não aproveitar nada o seu efeito, as experiências que sob ela experimentamos.
E aí vamos mais longe.
É necessário o uso de plantas de poder?
A resposta não é simples, depende de cada pessoa.
Para algumas pessoas o uso é necessário, até indispensável, para outras é completamente dispensável e existem aquelas que nunca podem fazer uso de tais plantas, sob pena de se confundirem ou mesmo ficarem muito doentes.
Cada caso é um caso e não podemos generalizar.

Mas estamos falando de xamanismo e magia, portanto, vamos deixar claro:
Que uso de substâncias químicas não tem nada a ver com xamanismo, substâncias químicas são resultantes de experiências desta época, que tentam imitar o efeito das substâncias naturais encontradas nas plantas, mas sem o "poder”.

Cocaína, por exemplo, é chamada por muitos de Maldição Inca, segundo alguns xamãs a cocaína está atacando o próprio sistema explorador que domina os povos, o número de
executivos que só vive a poder de coca é espantoso.
Para muitos é uma antiga maldição dos povos andinos atingindo os modernos conquistadores.

O uso de remédios deve se enquadrar nesta classe de tóxicos.
Se tu trilhas um caminho xamânico e usa remédios químicos a todo instante, um simples Anador, Melhoral ou Aspirina, pode ter certeza que seu corpo está intoxicado e que tu estás usando drogas.
Se vamos ser precisos em nossa avaliação temos que passar por aí. Remédios químicos para o organismo têm o mesmo efeito que a coca ou heroína para o campo psíquico.
As drogas farmacológicas viciam o corpo, quanto mais se usa um remédio, doses mais fortes precisam ser usadas.

O xamanismo é um caminho natural, assim os (as) xamãs mantêm seus corpos saudáveis por efeito do uso de ervas e terapias naturais.
Se tens um armarinho de remédios que deixa com inveja muitas farmácias, se dependes de remédios químicos, quaisquer que seja, estás no caso dos viciados em drogas químicas.
O uso sistemático de remédios  químicos revela  um problema tão grande quanto o uso de drogas químicas.
Destroem as defesas naturais do corpo (crescem as correntes entre epidemiologistas que associam a AIDS a um problema muito mais sistêmico que a simples presença do vírus, aliás em toda doença o agente tido como infeccioso é sempre um aproveitador, que entra quando o organismo por causas diversas entrou em colapso).

Portanto, vamos aproveitar o tema "drogas" e definir muito bem o que são drogas:
Drogas são todas as substâncias que agindo sobre o corpo provocam alterações metabólicas que podem imitar o comportamento natural do corpo, mas agem causando dependência e destruição orgânica.
Existem as drogas que atuam sobre a percepção, chamadas de psicodélicas, que os modismos da era hippie e a apologia de certos escritores e artistas fizeram parecer ser "chique", da "moda", "moderno", usá-las.

A necessidade do transe é comum a todas as culturas, os cultos antigos sempre fizeram uso de plantas alucinógenas para induzir estados de realidades não comuns aos praticantes. Entretanto a forma pela qual isso era feito, a maneira pela qual tais ritos são conduzidos muda tudo.

Fato: A maioria das pessoas que usam drogas se dão mal, mais cedo ou mais tarde. Basta observar, ou estas pessoas "saem da estrada" ou acabam se destruindo. Fora os casos que as pessoas se destroem tanto enquanto singularidades que se tornam incapazes de sair por si, engrossando as fileiras das igrejas fundamentalistas, deixando de consumir drogas químicas para consumir drogas ideológicas, que as tornam dependentes, heterônomas, mas ao menos "produtivas para o sistema".
Aliás, esse fator é muito sério.
O sistema tem uma relação muito dúbia com o problema das drogas e só o ataca quando o consumo se torna problema para a "produtividade" do individuo.

Mas proibir nunca foi forma de resolver nada, será que não aprendemos nada com a história? Proibir é sempre uma forma de criar uma aura em torno do que foi proibido que mais atiça a curiosidade.
Eu sou a favor da descriminalização da maconha justamente por isso.
É como o caso da carteira de motorista com 16 anos.
Todo mundo dirige com esta idade, mas o fato de proibir cria um problema ainda maior, tenho vários casos conhecidos de acidentes até fatais, com menores dirigindo, que se acidentaram ao fugir da polícia. Negando o fato, que menores pegam o carro e dirigem, estamos apenas criando um problema maior.
A maconha como está hoje colocada, como crime, acaba levando os usuários a se identificarem com a marginalidade. Isso é muito sério, temos que  tomar cuidado com esta aura ainda meio "romântica" que cerca o submundo do crime organizado. É muito perigoso o que está acontecendo, quando o traficante se torna herói e a polícia se parece tanto com o criminoso que julga combater que fica difícil saber de quem correr.
Quando jovens são chantageados, levam tapas, apanham mesmo, são desmoralizados por policiais quando flagrados usando maconha? Isto acontece sempre e isto cria uma maior
identificação destes jovens com o mundo do crime que com o mundo do contrato social que vivemos.
E viver em sociedade exige um contrato social.
A lei e a justiça tem seus defeitos, tem seus problemas, mas vivemos num Estado de Direito e isto é deveras importante de ser mantido.
Vá viver numa favela, em guerra entre gangues, para saber o quão é inconseqüente toda idéia que toda autoridade é vã e deve ser suprimida. Quando estamos no mundo do crime organizado não há lei, a vontade caprichosa de alguns se impõe, a vontade imposta pela força, pelo poder e a morte de quem não concorda.
Não vamos ser ingênuos e crer que nosso sistema legal é algo bom e puro, mas ao menos, no estado configurado, no estado de direito, temos instrumentos para uma ação política e a política é o espaço público nas conformidades da lei, uma lei que é gerada pela necessidade da sociedade, onde a vontade caprichosa de grupos ou indivíduos não pode ser mais forte.
Sabemos que ainda não estamos dentro disto 100%, mas o caminho é por aí.

Temos que notar que quando falamos de xamanismo estamos lidando com uma abordagem completamente diferente da realidade, uma abordagem que nada tem a ver com os
paradigmas dessa sociedade na qual estamos inseridos.
Lidar com outros estados de consciência não faz parte do que a sociedade cotidiana aceita ou lida.
As linhas psicológicas e psicanalíticas ortodoxas tratam todos os estados diferentes de consciência como patológicos, exceção para psicologias mais arrojadas, porém pouco
aceitas, como a transpessoal.
Ainda temos alguns resquícios da inquisição em nosso tempo, os hospícios são um deles.
Assim entrar em outros estados de consciência não é algo que pode ser encarado de forma superficial como tudo o mais que acontece nesta sociedade.

É um tema amplo e sério, mas é bom começar a distinguir que o xamanismo é um caminho de liberdade, assim tudo que limita, que escraviza, que gera dependência, que destrói não pode ser um caminho xamânico e mágico.

Pela liberalização das drogas
A guerra estatal contra as drogas, assim como a Guerra Contra a Pobreza ou a Guerra Contra o Terror, é um fracasso abjeto.  Ela atravanca o sistema judiciário, incha desnecessariamente a população carcerária, estimula a violência, corrompe a polícia, corroi as liberdades civis e acaba com a privacidade financeira.  Ela também estimula buscas e apreensões ilegais, arruína inúmeras vidas, desperdiça centenas de bilhões em impostos, obstrui o avanço de técnicas de tratamento medicinal e não produz impacto algum no uso ou na disponibilidade das drogas.
Como consequência dessa fracassada guerra, gente oriunda de todos os lados do espectro ideológico já começou a clamar - em modo e intensidade nunca antes vistos - por algum grau de descriminalização ou legalização.
Um recente exemplo disso é o filósofo político britânico John Gray .  Em um artigo intitulado "O Argumento a Favor da Legalização de Todas as Drogas é Irrefutável ", Gray faz uma forte defesa da descriminalização total das drogas.  A guerra mundial contra as drogas deveria ser abolida porque:
  • A guerra às drogas já mutilou, traumatizou ou desalojou um incontável número de pessoas.
  • Apesar disso, o uso de drogas permanece entranhado em nosso modo de vida.
  • Os custos incorridos pela proibição das drogas já excederam enormemente qualquer possível benefício.
  • Penalizar o uso de drogas acaba por levar pessoas que em outro contexto seriam cumpridoras da lei à economia do submundo.
  • A proibição expõe os usuários de drogas a enormes riscos de saúde.
  • Drogas ilegais não podem ter sua qualidade e toxicidade facilmente testadas.
  • Inúmeros usuários de drogas viveram vidas produtivas em épocas passadas antes das drogas serem proibidas.
  • Os usuários de drogas têm de lidar com preços inflacionados, riscos de saúde e a ameaça de cadeia.
  • Políticos que já utilizaram drogas não sofreram qualquer tipo significativo de efeito colateral em suas carreiras.
  • Os enormes lucros obtidos com as vendas de drogas ilegais corrompem instituições e destroem vidas.
  • A cruzada antidrogas recentemente iniciada pelo governo do México acabou se agravando e se transformando em uma miniguerra. (Pense no Rio de Janeiro).
  • Alguns estados já foram, de uma forma ou de outra, inteiramente capturados pelo dinheiro das drogas.
Ele também poderia ter falado, como vários outros já o fizeram, que certas drogas ilegais já se comprovaram muito eficazes como analgésicos, que pessoas que fumam maconha têm menor risco de sofrer de certas doenças, ou que o abuso de remédios controlados mata pessoas (Elvis, Heath Ledger, Michael Jackson) da mesma forma que as overdoses de drogas ilegais.  Ele poderia ter mencionado que o abuso de álcool é um problema social maior do que o uso de drogas ilegais, ou que apenas nos EUA ocorreram 1.702.537 prisões no ano passado, sendo que quase metade foi por causa de uma simples posse de maconha.
O problema com o argumento "irrefutável" de Gray é que ele é utilitarista.  Ele não faz um argumento em nome da liberdade.  Ele não argumenta que as pessoas devem ter a liberdade de usar drogas simplesmente porque elas são livres.  Assim, se a guerra às drogas parar de mutilar, traumatizar e desalojar as pessoas, se os custos da proibição tornarem-se menores que os benefícios, se as drogas ilegais puderem ter sua qualidade e sua toxicidade testadas, se a miniguerra mexicana acabar, etc. - então, de acordo com Gray, a guerra às drogas poderia ser uma coisa boa.
O único argumento irrefutável é o argumento do ponto de vista da liberdade.  Mais ainda: da imoralidade que é a intromissão governamental na vida pessoal de cada indivíduo.  Em nenhum lugar do seu artigo Gray sequer considera que não é papel do governo e nem é direito de qualquer pessoa proibir, regular, restringir ou controlar o que um indivíduo deseja comer, beber, fumar, absorver, cheirar, aspirar, inalar, engolir, ingerir ou injetar em seu corpo.
Se as drogas serão para uso médico ou recreativo é algo que não importa.  E também não importa se o uso de drogas irá aumentar ou diminuir.  Um governo que tem o poder de proibir substâncias nocivas ou práticas imorais é um governo que tem o poder de banir qualquer substância e qualquer prática.  Sequer deveria existir algo como 'substância controlada'.
Conservadores que reverenciam leis deveriam apoiar tanto a liberdade de se utilizar drogas para qualquer propósito quanto um livre mercado para as drogas.  Não é minimamente racional autorizar o governo federal a se intrometer nos hábitos alimentares, alcoólicos ou tabagistas dos indivíduos.  Com efeito, até o início do século XX inexistiam leis contra as drogas em praticamente todo o mudo.  (Clique aqui para ver algumas curiosidades sobre esse período de drogas livremente comercializadas).
Não é papel do governo e nem é direito de qualquer pessoa proibir, regular, restringir ou controlar o que um indivíduo deseja comer, beber, fumar, absorver, cheirar, aspirar, inalar, engolir, ingerir ou injetar em seu corpo.
John Gray chega a alertar contra uma "utopia libertária na qual o estado se abstém de qualquer preocupação em relação à conduta pessoal".  Mas não é com esse seu alerta ridículo que temos de nos preocupar.  O verdadeiro problema são os puritanos, os moralistas, os intrometidos, os totalitários, os estatistas e todos os outros reformadores sociais idealistas - dentro e fora do governo.
As drogas de John Gray são regulamentadas, licenciadas, tributadas, monitoradas e controladas.  Mas sem um livre mercado para as drogas, sua legalização nada mais é do que um controle estatal do mercado de drogas, como o professor e psiquiatra Thomas Szasz  já demonstrou.
O argumento de John Gray a favor da legalização de todas as drogas é facilmente refutável; já a defesa da liberdade é absolutamente irrefutável.


Milton Friedman - ganhador do nobel de economia
Fontes: