sexta-feira, 29 de julho de 2011

Chipre mergulha de cabeça na crise



Presidente pediu demissão dos ministros mas mantém-se no poder

Crise política no Chipre agrava hipótese de resgate financeiro

28.07.2011 - 18:05 Por Daniel Almeida
Presidente do Chipre, Demetris Christofias, pediu e recebeu hoje a demissão em bloco dos seus ministros, na sequência da explosão numa base naval que destruiu a maior central elétrica do país. O desastre está a provocar um enorme prejuízo financeiro, colocando o Chipre no topo da lista dos candidatos a receber ajuda externa.
<p>Demetris Christofias está há três anos no poder</p>
Demetris Christofias está há três anos no poder
 (Yiorgos Karahalis)
A explosão ocorrida no dia 11 de Julho na base Evangelos Florakis, que por armazenar munições antigas acabou por atingir também a central elétrica, e que vitimou 13 pessoas, continua a abalar a ilha do Chipre. Seguem-se agora as “vítimas” políticas: Demetris Christofias pediu, e os ministros apresentaram hoje a demissão. Apesar das críticas e manifestações públicas, o chefe de estado e de governo mantém-se em funções.

“O povo elegeu-me, e é a ele que tenho de prestar contas, não aos media”, disse Christofias, citado pela agência noticiosa Reuters. A nova administração deve, segundo o porta-voz do Governo, Stefanos Stefanou, ser apresentada “em breve”.

Os prejuízos da perda da central elétrica, que abastecia mais de metade da ilha banhada pelo Mar Mediterrâneo, podem situar-se entre um e três mil milhões de euros, avança a Reuters. Um número que representa cerca de 17 por cento do PIB cipriota. 

Os receios de danos económicos já levaram os juros das obrigações cipriotas a disparar. Os títulos com maturação a 10 anos situam-se hoje nos 10,05 por cento, quando há três meses estavam nos 6,22 por cento. Valores que colocam o Chipre muito próximo de Portugal e Irlanda, cujos juros da emissão de dívida com a mesma maturidade estão nos 10,84 e 11,16 por cento, respectivamente.

No entanto, o Governo recusa-se a admitir, para já, que o Chipre possa vir a ser o quarto país a pedir assistência financeira ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF). “Até agora, o Chipre conseguiu satisfazer as suas necessidades financeiras até ao final do ano. Por isso, não tomem como garantido que tenhamos de ser recorrer ao mecanismo de ajuda”, disse Stefanos Stefanou, citado pela Reuters.

Da crise energética à crise política, o país saltou para o radar das agências de notação financeira. Ainda ontem a Moddy’s cortou o rating cipriota para dois níveis acima de junk (“lixo”) – o mesmo patamar em que está Portugal.

















Chipre

Chipre (em grego Κύπρος, transl. Kýpros; em turco Kıbrıs) é uma ilha situada no Mar Mediterrâneo oriental ao sul da Turquia, cujo território é o mais próximo, seguindo-se a Síria e o Líbano, a leste. O país é também membro da União Europeia (UE). O terço restante (norte da ilha) foi ocupada pela Turquia em 1974, que então institui a República Turca de Chipre do Norte, nunca reconhecida pela ONU, reconhecida apenas pela própria Turquia.
Segundo as leis internacionais, a ilha de Chipre, em sua totalidade, é um país independente. Todavia, em 1974, após 11 anos de violência entre as comunidades e um golpe de Estado de nacionalistas cipriotas gregos, a Turquia invadiu e ocupou a parte norte da ilha. A violência entre as comunidades e a posterior invasão turca levou ao deslocamento de centenas de milhares de cipriotas além do estabelecimento de uma entidade turco-cipriota separada políticamente ao norte, reconhecida somente pela própria TurquiaNicósia, a capital do Chipre, é a última capital dividida por um muro em todo mundo.
Na ilha também são os sites de Akrotiri Dhekelia pertencentes ao Reino Unido. A ilha de Chipre está situada no Mar Mediterrâneo, 113 quilômetros ao sul da Turquia, 120 km a oeste da Síria, 150 km a leste da ilha grega de Kastelorizo. Chipre tornou-se membro da Organização das Nações Unidas em 20 de setembro de 1960.
O nome da ilha e do país deriva da palavra grega para cobrekýpros. Por este motivo, alguns autores especulam que a melhor tradução do nome em português seria Cipro, em vez do galicismo Chipre.
Depois de sucessivamente ocupado por feníciosegípciosassíriospersasgregos romanos durante a antiguidade, Chipre foi dominado pela República de Veneza desde 1489 até à invasão dos turcos otomanos em 1570. Pelo Congresso de Berlim, a ilha passou à administração britânica a 12 de julho de 1878, sendo convertida oficialmente em colónia em 1914, com o início da Primeira Guerra Mundial.
Ruínas do templo dedicado a Apolo, na cidade de Limassol.
Em 1930 começam as primeiras revoltas a favor da enosis (união de Chipre com a Grécia) e, nos fins da Segunda Guerra Mundial, os greco-cipriotas aumentam a pressão para o fim do domínio britânico. O arcebispo Macário lidera a campanha pela enosis e é deportado para as Seicheles em 1956 depois duma série de atentados na ilha.
Em 1960, Chipre, Grécia e o Reino Unido assinam um tratado que declara a independência da ilha, ficando os britânicos com a soberania das bases de Akrotiri e  Dhekelia. Makarios assume a presidência, mas a constituição indicava que os turco-cipriotas ficariam com a vice-presidência, com poder de veto, o que dificultou o funcionamiento do estado e as relações entre greco-cipriotas e turco-cipriotas, desembocando em explosões de violência intercomunitária em 1963 e 1967.
15 de julho de 1974 um golpe pró-helênico depôs o governo legítimo, o que provocou a reação de Turquia, que, utilizando-se da suposta defesa dos interesses dos turco-cipriotas, invadiram e até hoje ocupam militarmente a parte norte da ilha, ocupação esta que já fora declarada ilegal inúmeras vezes pelo Conselho de Segurança da ONU, cujas resoluções ordenavam a retirada imediata das tropas turcas. Esta foi a origem da República Turca de Chipre do Norte, um estado de fato que só é reconhecido pela Turquia e pela Organização da Conferência Islâmica. Deste então, o Estado Turco vem tentando modificar a etnia da ilha, trazendo centenas de milhares de turcos (os quais não têm origem cipriota) e habitam as casas dos greco-cipriotas refugiados de guerra que fugiram da morte sem nada levar.
A República de Chipre é aceita como membro da União Europeia em 2004, ao mesmo tempo que se aplica um plano para a reunificação apoiado pelas Nações Unidas, apesar de um referendo em que 76% dos greco-cipriotas terem votado contra.
Chipre é uma república, com um sistema presidencialista de governo. O presidente é o chefe de estado e de governo, nomeando e liderando o Conselho de Ministros, que exerce o poder executivo. O presidente é eleito por 5 anos, por sufrágio direto e universal. O poder legislativo é exercido pela Câmara dos Representantes. Os deputados são eleitos democraticamente por um sistema uninominal, de 5 em 5 anos. Os deputados são só cipriotas gregos. Os representantes da denominada República Turca do Norte de Chipre não são reconhecidos internacionalmente.

A economia de Chipre está claramente afetada pela divisão da ilha em dois territórios. Tem uma economia altamente vulnerável, mais estabilizada depois da entrada na União Europeia, com uma forte dependência do setor serviços e problemas de isolamento com respeito ao resto da Europa.
Nos últimos vinte e cinco anos, Chipre passou a depender da agricultura (onde só a produção de cítricos tem relativa importância comercial), a ter uma estrutura mais conforme com o contexto europeu, com uma presença importante do setor industrial que sustenta a maior parte das exportações e emprega 25% da população. Cerca de 70% depende do setor serviços, e em concreto do turismo. A localização geográfica próxima ao Oriente Médio provoca grandes oscilações de ano em ano ao tempo de converter-se em destino turístico.
A frota de navios com matrícula cipriota é a quarta mais importante do mundo e reporta volumosos rendimentos.
Em 1 de Janeiro de 2008 a República do Chipre adotou também o Euro como moeda local, menos de quatro anos após entrar para a União Européia.