terça-feira, 10 de maio de 2011

Constantino: “Nunca um Capitalismo de Estado foi tão evidente no Brasil”.

Constantino: “Nunca um Capitalismo de Estado foi tão evidente no Brasil”.

“Nunca um Capitalismo de Estado foi tão evidente no Brasil, com poder exagerado e asfixiante”. É a opinião do economista Rodrigo Constantino no painel “Capitalismo de Estado X Liberdade”, no 2o Fórum Democracia e Liberdade, promovido na FAAP, pelo Instituto Millenium. “Em um Estado que controla fábricas de papel, o jornalismo se vê refém do governo. Quando o estado controla o grosso da circulação do capital, ele detém toda a economia nas suas mãos.”, completou.
Constantino também criticou a farra da concessão de crédito do BNDES para as grandes empresas.  “Quando o Estado decide quem são os vencedores, mesmo sendo empresas ineficientes, ele destrói princípios básicos do capitalismo.” Por definição, um modelo que concentra recursos na mão do estado, prima pela ineficiência. O setor público do Brasil viabiliza a ineficiência e deixa de lado a meritocracia.  “O negócio aqui é ser amigo do Rei”, disse.
O economista também é critico das relação de benefícios entre Estado e elite econômica no país: “O modelo que vivemos hoje no Brasil está matando a iniciativa privada empreendedora. Por outro lado, é só botar um boné vermelho e ir à Brasília que você consegue privilégios. A solução que se apresenta  é se pendurar no setor público e não dar valor a própria iniciativa e competitividade.

O Brasil sofre infantilidade. Os adultos olham para o governo, que soluciona todos os males. E tolhem as liberdades individuais”, argumentou.
Entenda:

Capitalismo de Estado

O conceito de Capitalismo de Estado abrange dois signficados distintos. O primeiro que se verificou históricamente refere-se a países capitalistas com forte intervenção do Estado na economia onde este esforça-se para desenvolver as forças produtivas opondo-se assim ao liberalismo. É o caso da França, por exemplo. O segundo significado refere-se aos países designados de socialistas (ex-URSS e Cuba, por exemplo), que se caracterizam por manter a exploração dos trabalhadores via extração de mais-valia, tal como no capitalismo privado, mas onde o Estado se transforma no principal proprietário. O Estado possui o monopólio dos meios de produção e extrai a mais-valia e a redistribui, além do investimento no processo de acumulação de capital, entre os burocratas, que passam a usufruir de diversos privilégios, formando uma burguesia de Estado.
O regime soviético foi acusado por comunistas conselhistas e anarquistas de ser um regime de capitalismo de Estado, pois, naquele regime, o Estado se tornou proprietário de todos os meios de produção, manteve os trabalhadores longe das decisões políticas e gerenciais, e continuou os submetendo à escravidão do salário.
Todos os países considerados Comunistas, como a ex-U.R.S.S., a República Popular da ChinaCubaVietnã, bem como os países do Leste europeu foram acusados de serem também regimes de capitalismo de Estado.
A idéia de Capitalismo de Estado surge com o próprio processo da revolução russa. Lênin foi um dos primeiros a utilizar esta expressão, mas no sentido do primeiro caso e não do que os seus críticos depois utilizariam. Na Rússia, os grupos de oposição dentro do Partido Bolchevique (a Oposição Operária, os Centralistas Democratas e os Comunistas de Esquerda), colocaram a ameaça de abandono de construção do socialismo e a tendência de construção de um capitalismo de estado, devido a política do partido bolcehvique e o abandono da autonomia operária. Fora do partido, o Grupo Verdade Operária qualificaria o regime russo como sendo um capitalismo de estado.
Fora da Rússia, foram principalmente os chamados comunistas de conselhos (Anton PannekoekKarl KorschOtto RühleMaximilien Rubel, entre outros) que teorizariam o regime russo como sendo um capitalismo de estado. Posteriormente, a Esquerda Comunista Italiana, de Amadeo Bordiga, e vários outros grupos e indivíduos passaram a adotar esta tese.
Trotsky e a maior parte da tradição trotskysta divergiu deste conceito ao qual contrapuseram o de Estado Operário burocratisado. Alguns intelectuais de origem trotskysta adotaram esse conceito, como Tony Cliff, e romperam com a Quarta Internacional.

Capitalismo de Estado versus capitalismo de mercado: a grande diferença

1. Muito se tem discutido, nos últimos meses, sobre a natureza da crise que tem afetado a economia mundial - e não falta quem lhe atribua natureza de crise sistémica, no sentido de que com esta crise o que está em causa, ferido de morte, seria o sistema capitalista de mercado.
2. Avanço, desde já, que me parece equívoca a antítese capitalismo-comunismo: pela razão simples que em ambos os modelos/sistemas históricos o capital teve ou tem um papel central, ambos são pois sistemas capitalistas; a principal diferença reside na chamada propriedade dos meios de produção e nos mecanismos de afetação dos recursos.
3. No caso do capitalismo de Estado, a propriedade de quase todos os meios de produção é do Estado – na prática é do aparelho político que controla o Estado, na teoria do coletivo dos cidadãos.
4. No caso do capitalismo de mercado, a propriedade dos meios de produção encontra-se dispersa, tanto pertencendo a cidadãos, mais ou menos organizados em empresas, como ao Estado, frequentemente aparecendo ambos em parceria.
5. Os casos historicamente mais importantes de capitalismo de Estado – o da URSS e o da China, com as suas distinções de estilo – ruíram.
6. O primeiro ruiu fragorosamente, arrastando consigo o desmantelamento de todo o aparelho de Estado com que convivia – foi a histórica implosão da URSS.
7. O segundo conseguiu uma impressionante transformação que permite manter um sistema de partido único a que seria inerente um capitalismo de Estado - mas teve de deixar cair a regra de ouro da propriedade exclusiva dos meios de produção, mostrando-se capaz de viver com um sistema de economia de mercado, em que boa parte dos meios de produção se encontra já na propriedade e posse jurídica e indisputada de cidadãos.
8. O sistema de capitalismo de mercado ou de economia de mercado, como também é chamado, tem uma virtualidade que não existe nos sistemas de capitalismo de Estado – embora o exemplo chinês dê que pensar (e bastante): as crises são detectáveis através de mecanismos próprios do sistema, que também permitem a introdução de fatores de correção, mais ou menos drásticos iremos ainda ver, sem alterações fundamentais do sistema.
9. Enquanto que no caso da URSS a crise do capitalismo destruiu o sistema e o próprio Estado e na China destruiu o sistema embora preservando (para já) o essencial do aparelho de Estado comunista, nos sistemas de economia de mercado as crises puderam até hoje ser superadas – e tudo indica que voltarão a ser – sem destruição do Estado ou do sistema de mercado.
10. Existe uma razão fundamental para estas diferenças: apesar de todos os seus defeitos, por vezes chocantes, o sistema de capitalismo (ou de economia) de mercado é infinitamente mais aberto, mais ágil, mais participado e menos rígido que os sistemas de capitalismo de Estado.
11. Admito que muito boa gente fique triste com estas considerações: mas que se preparem para assistir à recuperação da economia mundial e à subsistência da economia de mercado, se não me engano muito...embora ainda que tenhamos de esperar um bom par de meses...

Capitalismo de Estado, será o Socialismo do século XXI?

Por Amaury Cardoso em 17/08/2010
Recentemente li um artigo sobre o novo livro do cientista político norte-americano Ian Bremmer sobre o crescimento do capitalismo de Estado no mundo. Em que pese não ser o assunto de minha preferência, em razão de minhas convicções político-ideológicas, não posso me furtar a abordá-lo. Embora o autor entenda que o sistema de livre-mercado vai prevalecer, cremos que talvez a discussão não seja exatamente a prevalência desse sistema, mas a forma dessa prevalência, o que nos leva a refletir sobre a natureza desse novo capitalismo, com grandes bancos e seguradoras à beira da bancarrota, fora outras grandes empresas, o que fez acender o sinal amarelo para a economia de livre-mercado, posto que tais instituições tiveram que ser socorridas pelo Estado, ou seja, foi usado dinheiro do contribuinte (que deveria ser utilizado na consecução do bem comum) para tapar o rombo deixado por administrações insensatas que em nome desse livre-mercado prega o lucro fácil e valorizado gerado pela especulação financeira, deixando de gerir suas instituições com a adequada aplicação de seus ativos financeiros no aumento da sua produtividade.
Tal quadro indicaria o ressurgimento da intervenção estatal na economia? A mudança da mesa internacional de negociações, composta pelos representantes do G-7, todos campeões do capitalismo neoliberal, para a ampliada mesa do G-20,que incorpora países críticos do livre-mercado como China, Rússia e Índia, entre outros, já é uma sinalização de eventuais transformações no paradigma da economia mundial, porque para muitos o livre-mercado fracassou na manutenção e na ampliação da prosperidade do planeta.
Entretanto, o que isso teria haver com o ressurgimento do socialismo neste século, depois da débâcle sofrida com o fim do comunismo no leste europeu nos anos 90? Quando Gorbatchev anunciou o fim da URSS, Deng Xiao Ping lançou sua reforma de livre-mercado na China e até Fidel Castro cedeu à necessidade de experiências capitalistas em Cuba, nada parecia mais certo do que o triunfo do capitalismo de livre-mercado, tal como em 1919, após a I Guerra Mundial, nada parecia mais absoluto que o triunfo do ideal democrático. Contudo, o desenrolar dos acontecimentos mostrou que sair de uma economia planificada socialista para uma economia de mercado não é tão fácil como parece, e foi a China e não a Rússia, que melhor soube interpretar o real significado da extinção da União Soviética e dos seus satélites.
O Partido Comunista Chinês percebeu que se não gerasse prosperidade e acesso a bens de consumo para sua população cairia do poder. E percebeu, ainda, que o crescimento econômico que garantiria esse bem só ocorreria com a liberdade para inovações tecnológicas e para as latentes energias empreendedoras da enorme população chinesa e, finalmente, viu também que tão logo fosse libertado esse potencial, o monopólio político do partido comunista só permaneceria se o Estado controlasse a maior parte possível da riqueza gerada nesse processo, que os mercados viessem a proporcionar, mantendo, desse modo, o sistema político autoritário do comunismo. A estratégia chinesa fez escola e outros campeões do autoritarismo sentiram que suas economias planificadas iriam soçobrar, então, para evitar que o livre mercado fugisse ao controle, inventaram o capitalismo de estado, bem diferente daquele que se imputava ao regime militar brasileiro pelo “estadismo” que marcou o período. Neste novo sistema os governos se utilizam de empresas sob controle estatal para gerir aquelas consideradas estratégicas, e para gerar e manter uma grande quantidade de empregos. Designam empresas privadas para dominar alguns setores econômicos, e usam os fundos soberanos para investir o dinheiro excedente e potencializar os lucros do Estado que, em última análise, se utiliza dos mercados visando gerar riquezas que possam ser canalizadas para a satisfação dos interesses dos políticos.
O Brasil, bem como outros Estados emergentes, também foi seduzido por este novo modelo. Com uma roupagem de esquerda, o presidente Lula se respalda na responsabilidade social com o aumento do investimento em programas assistencialistas, elegendo como campeões do controle privado os setores de mineração e de telecomunicações, sendo que a Petrobrás e a Eletrobrás têm um papel estratégico em termos de presença do Estado Brasileiro na economia e, desse modo, angariando os fundos essenciais ao financiamento da sua política assistencial. Agora, só falta a ampliação do fundo soberano para fechar o ciclo.
Apesar de tudo isso, não se pode, ainda, considerar o Brasil um país “capitalista de estado”. A democracia estável faculta o controle do poder do Estado, com a opinião pública apoiando o comércio, o investimento estrangeiro, mas com um fundo soberano pequeno em face de outros países emergentes.
Pelo exposto, a eleição deste ano se reveste de especial importância em função das riquezas provenientes do présal.
Um novo governo que pretenda seguir a linha econômica do atual, tendo a responsabilidade de administrar a maior reserva petrolífera do mundo, certamente caminhará muito mais próximo ao capitalismo de Estado, com seu alto grau de intervencionismo econômico, mas neste caso com a finalidade precípua de proporcionar um dirigismo estatal no sentido de viabilizar verbas para utilização “política”. É o renascimento, versão atualizada, do dirigismo da economia levado a cabo pelos falecidos Estados Socialistas. Será o socialismo do século XXI? Um governo que não siga tal estratagema político-econômico provavelmente se entregará ao livre-mercado, e não se pode sequer imaginar a fórmula que será usada para manter a prosperidade nacional e o crescimento econômico da nação. Convenhamos, será que vale a pena correr o risco?


*Amaury Cardoso é físico do IMETRO / IPEM-RJ, pós-graduado em Administração Pública e Políticas Públicas e Governo. Pós-graduado em Gestão Pública. Membro e delegado do Diretório Municipal / Rio e do Diretório Estadual/RJ do PMDB.


Capitalismo de Estado

Maio 4, 2011
Autor: Rodrigo Constantino

“O Estado é melhor como jardineiro, que deixa as plantas crescerem, do que como engenheiro, que desenha plantas erradas.” Roberto Campos


Devemos tomar cuidado com rótulos simplistas, que muitas vezes podem confundir mais do que elucidar. Feito o alerta, socialismo é quando o Estado detém os meios de produção, enquanto no capitalismo eles são privados. Partindo desta definição, não há país puramente socialista ou capitalista no mundo; todos eles são uma mistura, em graus distintos. Coreia do Norte, Cuba e Venezuela são exemplos quase socialistas, enquanto Suíça, Austrália e Canadá são países bem mais capitalistas.
O modelo mais próximo do socialismo também pode ser chamado de capitalismo de Estado. Ele existe quando o poder do Estado é tão grande a ponto de influenciar absurdamente os resultados econômicos do país, asfixiando a iniciativa privada. O Estado, neste caso, é visto como a grande locomotiva que garante a prosperidade da nação. Os indivíduos precisam se “encostar” nele como fonte de enriquecimento.
A crença de que o Estado é o “pai do povo” permite a privatização do espaço público por uma “patota” populista. O Estado fica muito mais forte do que a sociedade. Burocratas e políticos passam a controlar a máquina estatal. A privatização do Estado ocorre através das práticas de nepotismo e clientelismo, e as leis deixam de ser isonômicas, passando a representar um braço dos privilégios da “grande família” no poder.
Como definiu Octavio Paz, “o patrimonialismo é a vida privada incrustada na vida pública”. No capitalismo de Estado, a política deixa de ser um meio para alavancar os negócios; ela é o grande negócio em si. O princípio básico do modelo é a privatização dos lucros e a socialização dos prejuízos. Quem não faz parte do andar de cima acaba pagando a conta. A variável política tem preponderância sobre a econômica. A troca de favores é o meio para o sucesso, não a meritocracia ou a eficiência. O melhor atributo é ser um “amigo do rei”.
Este modelo leva ao autoritarismo, por meio da crescente concentração de poder na casta governante. Infelizmente, a América Latina parece longe do dia em que tais características serão apenas um triste capítulo do passado. Se antes figuras como Perón e Getúlio Vargas representavam os ícones deste modelo, atualmente temos Hugo Chávez e Evo Morales como novos “patriarcas”.
E o Brasil nesta história? Jamais tivemos um modelo efetivamente liberal, mas “nunca antes na história deste país” tivemos um capitalismo de Estado tão evidente. O aparelhamento da máquina estatal tem sido assustador. A ingerência no setor privado, como no caso da Vale, aumentou exponencialmente. E, talvez o exemplo mais sintomático, o BNDES foi transformado numa gigantesca máquina de transferência de riqueza dos pagadores de impostos para os grandes empresários aliados ao governo.
O banco estatal foi o que mais cresceu nos últimos anos. Seus desembolsos subsidiados ficavam na faixa dos R$ 35 bilhões por ano antes de o PT chegar ao poder, e hoje os empréstimos chegam a quase R$ 150 bilhões por ano. As cifras são impressionantes. Igualmente impressionante é a concentração de grandes empresas no destino final dos recursos. Trata-se de uma verdadeira “bolsa-empresário”. O governo seleciona as empresas “vencedoras” de cima para baixo, com base em critérios políticos. Metade do crédito no país já depende do governo, o maior banqueiro do país!
O governo brasileiro é um dinossauro com apetite insaciável. Ele arrecada quase 40% do PIB em impostos, a fundo perdido para os cidadãos. Além disso, a dívida pública se aproxima dos R$ 2 trilhões, pressionando a taxa de juros da economia. A burocracia insana representa outro enorme custo indireto para as empresas. O governo brasileiro se mete até na escolha das nossas tomadas! Com esta hipertrofia toda, a corrupção toma conta do país. E, com gastos e crédito crescentes, a inflação já passa de 6% ao ano.
Trata-se de um modelo insustentável que beneficia basicamente os governantes e seus apaniguados. E, para desespero de todos aqueles que compreendem isso, não há lideranças políticas confrontando este ultrapassado modelo, apesar dos 44 milhões de votos na oposição. Parece que os políticos atuais disputam apenas o controle da “cosa nostra”. Falta quem lute efetivamente pela substituição deste modelo por outro com mais economia de mercado, império da lei e ética. Precisamos de uma alternativa urgente ao atual capitalismo de Estado, que concentra privilégios e distribui injustiças.
Fonte: O Globo, 03/05/2011
Rodrigo Constantino participou do painel “Capitalismo de Estado x Liberdade” no 2º Fórum Democracia & Liberdade, promovido pelo Instituto Millenium, ontem em São Paulo. 

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Taliban


Taliban

Taliban (também transliterado TalebanTalibã ou Talebã, do pachto: طالبانtransl. ṭālibān, "estudantes") é um movimento fundamentalista islâmico nacionalista que se difundiu no Paquistão e sobretudo no Afeganistão, a partir de 1994, e que efetivamente governou o Afeganistão entre 1996 e 2001, apesar de seu governo ter sido reconhecido por apenas três países: Emirados Árabes UnidosArábia Saudita e Paquistão. Seus membros mais influentes, incluindo seu líder, Mohammed Omar, eram simplesmente ulema (isto é, alunos e universitários) em suas vilas natais. O movimento desenvolveu-se entre membros da etnia pachtun, porém também incluía muitos voluntários não afegãos do mundo árabe, assim como de países da Eurásia e do sul e sudeste da Ásia.
É oficialmente considerado como organização terrorista pela Rússia, pela União Europeia e pelos Estados Unidos.
Como um movimento político e militar contra a invasão soviética do Afeganistão, os talibans são conhecidos por terem-se feitos portadores do ideal político-religioso de recuperar todos os principais aspectos do Islã (cultural, social, jurídico e económico), com a criação de um Estado teocrático.
Durante a invasão soviética do Afeganistão (1979-1989), o governo dos Estados Unidos, através da chamada Operação Ciclone, nome em código do programa da CIA, armou os mujahidins do Afeganistão. Foi uma das mais longas e dispendiosas operações da CIA jamais realizadas. Entre 1987 e 1989, os serviços secretos do Paquistão (ISI) e a CIA operavam juntas, armando as milícias taliban, que combatiam as tropas soviéticas.
Territórios controlados pelas partes em conflito em 1996: em amarelo território sob controle do Taliban.
Depois que os vários grupos de resistência contra a ocupação soviética tomaram Cabul e estabelecem um governo marcado por lutas internas e guerras civis, o Taliban surgiu como uma alternativa caracterizada pela predominância pashtun e o rigor religioso extremo, criando na população expectativas de que acabaria com o constante estado de guerra interno e os abusos dos senhores da guerra. Controlando 90% do Afeganistão por cinco anos, o regime taliban, que se chamava o "Emirado Islâmico do Afeganistão", ganhou o reconhecimento diplomático de apenas três países: PaquistãoArábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Tinham como objetivo declarado impor a lei islâmica e alcançar um estado de paz.
Muitos membros do grupo Taliban cresceram em campos de refugiados no Paquistão e foram educados em madrassas, onde também aprenderam táticas de guerrilha e prepararam a tomada de Cabul.
Subiram ao poder depois de derrotar o presidente Burhanuddin Rabbani e seu chefe militar, Ahmad Shah Massoud, tendo a capital, Cabul, em1996. Depois de ocupar a capital, assassinaram o ex-presidente comunista Mohammad Najibullah e seu irmão.
Taliban em Herat em Julho de 2001.
Depois de implementar um rigoroso regime islâmico e surpreender o mundo com algumas de suas ações mais extremas, procederam a destruição dos Budas de Bamiyan (Patrimônio da Humanidade), que depois de sobreviver quase intactos durante 1500 anos, foram destruídos com dinamite e disparos de tanques. Em março de 2001, os dois maiores Budas foram demolidos em alguns meses de bombardeio pesado. O governo islâmico do Taliban criticou a UNESCO e as ONGs do exterior pela doação de recursos para reparar essas estátuas quando há muitos problemas urgentes no Afeganistão, e decretou que as estátuas eram ídolos e, portanto, contrário ao Alcorão.
A mídia informou que o Taliban deu refúgio a Osama bin Laden. Após o ataque terrorista às Torres Gêmeas em Nova York, as forças dos EUA argumentaram que, como o Afeganistão tendo decidido não entregar Bin Laden, o país seria atacado. Assim, derrubou-se o regime taliban e favoreu-se, com o apoio de outros países, a instalação do governo liderado por Hamid Karzai.
A facilidade da derrubada do Taliban levou à tentação dos Estados Unidos de invadir o Iraque, um país designado como parte do chamado "Eixo do Mal", pelo Presidente dos EUA George W. Bush. No entanto, após a invasão do Iraque e da posterior estagnação do sucesso internacional das forças de ocupação no Iraque, o Taleban recuperou a força, obteve um certo nível de controle político e aceitação na região de fronteira com o Paquistão e iniciou uma insurgência contra os EUA e o governo afegão, constituído após as eleições gerais. Assim, utiliza-se dos mesmos métodos da resistência no Iraque, incluindo emboscadas e atentados suicidas contra as tropas ali estacionadas dos países europeus e dos Estados Unidos.
O Taliban tem se reagrupado desde 2004 e revivido como um movimento de insurgência forte, regido Pashtuns locais, empreendendo uma guerra de guerrilha contra os governos do AfeganistãoPaquistão e as tropas da OTAN, lideradas pela Força Internacional de Assistência para Segurança (ISAF). O movimento é composto principalmente por membros pertencentes a tribos da etnia pashtun, juntamente com voluntários de países islâmicos próximos como uzbequestadjiqueschechenosárabespunjabis e outros. Opera no Afeganistão e Paquistão, sobretudo em torno das regiões da Linha Durand. Os EUA afirmam que a sua sede é em Quetta (ou nas proximidades), no Paquistão, e que o Paquistão e o Irã fornecem apoio ao grupo, apesar de ambas as nações negarem isso.
Mulá Mohammed Omar, na clandestinidade, lidera o movimento. Comandantes originais de Omar foram "uma mistura de ex-comandantes de pequenas unidades militares e professores de madrassa", enquanto a sua linha de soldados foi composta principalmente por refugiados afegãos que haviam estudado em escolas religiosas islâmicas no Paquistão. Os talibans receberam um treinamento valioso, suprimentos e armas do governo paquistanês, em especial do Inter-Services Intelligence (ISI),  e muitos recrutas das madrasas dos refugiados afegãos no Paquistão, principalmente aqueles estabelecidos pelo Jamiat Ulema-e-Islam (JUI).
Nas línguas faladas no Afeganistão (o persa moderno e o afegão), taliban significa "estudantes", palavra emprestada da língua árabe. Os taliban pertencem ao movimento islâmico sunita Deobandi, que enfatiza a piedade, a austeridade e as obrigações familiares. Este movimento emergiu em áreas de etnia pashtun.
Algumas atividades que foram banidas do Afeganistão durante o regime Taliban:
  • leitura de alguns livros
  • portar câmeras sem licença
  • cinematelevisão, uso de videocassetes (considerados decadentes e promotores da pornografia ou de ideias não-muçulmanas)
  • uso de internet
  • música
  • artes (pinturas, estátuas e esculturas de outras religiões)
  • as mulheres só podiam sair acompanhadas de um homem
  • empinar pipas (considerado perda de tempo, além de serem usadas em rituais hindus)
  • fotografar mulheres e exibir tais fotografias
  • plantio de ópio
  • rinha de cães
  • previsão do tempo
  • Barbear-se
Apesar do regime taliban ter banido o cultivo de papoulas de ópio em fins de 1997, estima-se que o seu cultivo tenha crescido e que, em 2000, fosse responsável por 72% da produção mundial. A maior parte do ópio afegane é vendida na Europa. O cultivo de papoulas cresceu com a queda do regime taliban.
O regime taliban impedia as mulheres de trabalhar e tinha regras rígidas sobre a educação feminina. Em alguns casos, as mulheres eram impedidas de terem acesso a hospitais públicos para que não fossem tratadas por médicos ou enfermeiros homens. As mulheres não podiam sair de casa sem acompanhantes homens e saíam somente pela porta de trás do ônibus. As mulheres que eram viúvas ou que não possuíam filhos não eram consideradas pessoas pelo Estado e muitas vezes enfrentavam a fome.
Em março de 2001, o taliban ordenou a destruição de duas gigantescas estátuas de Buda em Bamiyan, uma de 38 metros de altura e 1800 anos de idade e outra com 52 metros de altura e 1500 anos de idade. O ato foi condenado pela UNESCO e por vários outros países do mundo, incluindo o Irã.
Em face de conflitos com anciões de religião hinduísta, que frequentemente eram confundidos com islâmicos que haviam desrespeitado a ordem de não rasparem as barbas, os taliban decretaram, em maio de 2001, que os hindus e membros de outras religiões usassem um símbolo amarelo como identificação. Esta ordem foi posteriormente modificada em junho para obrigar os hindus a usarem uma carteira de identidade especial. O ato de empinar pipas, presente em alguns rituais hindus, foi banido por ser considerado perda de tempo.
As conversões de islâmicos a outras religiões foram banidas (o afegão era punido com a morte e o estrangeiro, expulso).
Em 1996 o saudita Osama bin Laden mudou-se para o Afeganistão, a convite da Aliança do Norte. Segundo o governo norte-americano, quando os taliban chegaram ao poder, a organização Al Qaeda, de Bin Laden, aliou-se a eles. Muitos ocidentais acreditam que o movimento taliban e a Al Qaeda já tinham relações bastante próximas, e que integrantes desta última tenham integrado as forças do Taliban entre 1997 e 2001.
Em resposta aos atentados de 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos e seus aliados invadiram o Afeganistão, à caça de Osama Bin Laden, que estaria refugiado no país, sob a proteção do regime taliban sem sucesso na missão. Finalmente em 2011, 10 anos após o ataque de 11 de setembro, Osama Bin Laden é assasinado no Paquistão por soldados norte americanos. A operação já estava sendo planejada desde setembro 2010 pelo Governo de Obama Presidente dos Estados unidos onde se reuniu 5 vezes com a cúpula do serviço de inteligência americano para dar por fim toda a operação de resgate e captura do terrorista. Mas, apesar da morte de Bin LadenAl Qaeda não teria terminado.

Mohammed Omar

mulá Mohammed Omar (em pachto: ملا محمد عمرNodeh, c. 1959), chamado simplesmente de Mulá Omar, é o líder do Taliban, movimento radical islâmico do Afeganistão, e chefe de Estado de fato do país de 1996 a 2001 sob o título oficial de Chefe do Conselho Supremo. Também manteve o título de Amir al-Mu'minin ("Comandante dos Fieis"), utilizado no Emirado Islâmico do Afeganistão. É procurado pelas autoridades dos Estados Unidos por "dar guarida a Osama bin Laden e à sua rede Al-Qaeda nos anos que antecederam e no período durante e imediatamente posterior aos ataques de 11 de setembro." Acredita-se que esteja conduzindo o Taliban em sua guerra contra o governo de Hamid Karzai e as tropas internacionais da OTAN no país a partir do Paquistão.
Apesar de seu cargo político e de ser uma das pessoas mais procuradas pelo FBI (embora não presentemente na lista dos dez foragidos mais procurados) pouco se sabe sobre ele e sobre sua vida. Existem pouquíssimas fotos dele, nenhuma delas oficial, e especula-se que a foto utilizada desde 2002 por boa parte da mídia seja outro oficial do Taliban. A autenticidade das imagens existentes ainda está em debate. Além do fato de que não tem um dos olhos, os relatos sobre sua aparência física são contraditórios; algumas pessoas que o conheceram pessoalmente o descrevem como um homem alto, enquanto outros o descreveram como pequeno e frágil. Também é descrito como tímido, e de poucas palavras para com estrangeiros.
Durante seu mandato como emir do Afeganistão Omar saiu poucas vezes de Kandahar, e raramente se encontrou com forasteiros, preferindo confiar em seu Ministro do Exterior, Wakil Ahmed Muttawakil, para a maior parte das necessidades diplomáticas.
Quando tinha 20 anos, em 1979, a União Soviética invadiu o Afeganistão e Omar refugiou-se com a família no Paquistão. Neste país fez estudos corânicos, mas antes de os terminar decidiu regressar ao seu país para combater os soviéticos.
Foi recrutado pela jihad, organização resistente aos soviéticos, e iniciou-se nas técnicas de guerrilha num centro controlado pela CIA, serviços secretos dos EUA, e pelos serviços secretos paquistaneses. Durante dois anos combateu os ocupantes soviéticos até que foi gravemente ferido e perdeu a vista direita. Regressou ao Paquistão e retomou os estudos.
Após a retirada dos soviéticos e a queda do regime comunista que governava o Afeganistão, em 1992 voltou a seu país de origem, afetado por uma guerra civil. Dedicou-se a apelar à oração e a ensinar o Corão, livro sagrado muçulmano, aos mais novos e, segundo o próprio relatou, em 1994 foi visitado pelo profeta Maomé. Ficou então incumbido de reunir os religiosos do Afeganistão e acabar com o terror, o crime, a anarquia e a imoralidade. Nasceu assim o regime taliban, um movimento fundamentalista destinado a fundar um Estado islâmico e que recrutava os seus militantes sobretudo entre a etnia pashtun, a mesma de Omar.
O regime chegou ao poder sob a liderança de Muhammad Omar, o "Mullah", que em 1996 foi nomeado por mais de mil religiosos o líder supremo dos taliban, o comandante dos crentes, e impôs a sua lei. As mulheres passaram a ser proibidas de estudar e trabalhar e só podiam sair à rua se estivessem tapadas. Os homens foram obrigados a deixar crescer barba, entre outras regras rígidas. Ainda em 1996, o regime taliban acolheu no Afeganistão Al-Qaeda, rede terrorista liderada pelo milinário saudita Osama Bin Laden. Bin Laden e Muhammad Omar tornaram-se amigos e o líder da Al-Qaeda converteu Omar à ideia da união entre os islamitas.
O regime de Muhammad Omar, que só era reconhecido por Arábia SauditaEmirados Árabes Unidos e Paquistão, caiu em finais de 2001após os ataques aéreos norte-americanos contra o Afeganistão, seguidos do avanço das tropas da Aliança do Norte, oposição armada formada por uma dezena de grupos etnicamente diversos unidos pela necessidade de combater os Taliban. Estes ataques surgiram na sequência dos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos.
A fuga de motocicleta, tantas vezes relatada na imprensa internacional, do líder taliban em Dezembro 2005 de Kandahar foi vista como o ponto final das ambições políticas de Muhammad Omar. Mas passados mais de oito anos sobre a invasão americana que derrubou o regime taliban, o seu chefe continua por capturar e ocasionalmente emite mensagens de desafio às tropas estrangeiras. E os taliban, baseando-se nos descontentamento das populações pashtuns, voltaram a dominar grandes zonas do Afeganistão. As suas técnicas de combate passam por ações de guerrilha clássica, mas também por atentados-suicidas contra as tropas estrangeiras e as foras militares afegãs que suportam o Presidente Hamid Karzai.

Grande ofensiva talibã para assumir o controlo da segunda cidade afegã

por Sara Sanz Pinto, Publicado em 09 de Maio de 2011 
Porta-voz do grupo diz que o ataque contra edifícios públicos em Kandahar nada tem a ver com morte de Bin Laden
As forças de segurança afegãs lutam há três dias contra uma violenta onda de insurreição talibã na cidade de Kandahar, no Sul do país. Pelo menos dois oficiais e três civis foram mortos e 46 pessoas ficaram feridas. Os ataques contra cinco edifícios do governo levados a cabo por homens armados e bombistas suicidas tiveram início no sábado, ao meio-dia, e, segundo os radicais, têm como objectivo "assumir o controlo da cidade". De acordo com a polícia, 14 talibãs e alguns paquistaneses também foram mortos.

Enquanto o presidente afegão, Hamid Karzai, afirmava que os militantes estavam a atacar civis para se vingarem da morte de Osama bin Laden, o porta-voz do grupo, Yusuf Ahmadi, contou que os atentados já estavam planeados há muito tempo, como parte da "ofensiva primaveril", anunciada na semana passada, e nada tinham a ver com a morte do líder da Al-Qaeda. Haji Pacha, importante membro da tribo Alokozai, disse em declarações por telefone ao jornal "The Observer" que Kandahar "estava completamente vazia". "Ainda existem confrontos em pelo menos três distritos da cidade e as lojas estão todas fechadas, as pessoas estão completamente apavoradas", acrescentou.

Segundo um líder talibã, que coordenou o ataque ao edifício do governador da província e falou em condição de anonimato, alguns funcionários públicos, alvos de uma violenta campanha de assassínios pelos insurgentes, estavam a usar civis como escudos humanos. "Forçam a entrada em carros com civis para tentarem fugir, porque sabem que não os atacamos", explicou.

O líder contou ainda que o edifício foi atacado por 40 homens e que o plano para atacar vários alvos de uma só vez foi concebido para intimidar as forças de segurança afegãs. "Sabemos que se atacarmos um sítio todo o pessoal da segurança virá cercar-nos; assim não nos conseguem parar", afirmou. De acordo com este líder talibã, os rebeldes, muitos deles fugidos da prisão no mês passado, tinham conseguido bloquear as principais ruas da cidade. A onda de ataques faz parte da operação Badar, anunciada no site do grupo rebelde, que visa transformar a cidade de Kandahar num "cenário de confrontos sangrentos".

Num comunicado separado, divulgado através da internet, os talibãs comentaram a morte de Bin Laden pela primeira vez, afirmando que o "martírio do xeque Osama [...] vai impregnar de um novo espírito a jihad contra os invasores".

Quem não acredita na inexistência de uma relação entre a morte do líder da Al-Qaeda e esta grande ofensiva talibã é o general norte-americano Richard Mills, que acabou recentemente a sua missão de comando dos marines no Sul do Afeganistão. Mills disse na quinta-feira que o líder dos talibãs, Mullah Omar, deve estar preocupado com a morte de Bin Laden, porque provou que os EUA "não abandonam as suas missões". E há vozes a pedir que, morto Bin Laden, os EUA devem envidar esforços para capturar o chefe máximo dos talibãs.

Ainda a propósito da organização terrorista, os EUA afirmaram ontem que "não podem dizer que a Al-Qaeda foi vencida estrategicamente", porém, o "número dois" de Bin Laden, Ayman al-Zawahiri, "não tem o mesmo estofo" que Bin Laden. O conselheiro para a segurança nacional de Barack Obama, Tom Donilon, sublinhou ainda que, apesar de o médico egípcio "estar longe de ser um líder", ele é agora "o terrorista mais procurado do mundo".