domingo, 6 de fevereiro de 2011

Olavo de Carvalho comenta a votação do Tiririca

Sistema COC e Universidades. (prof. Olavo de Carvalho)

PANAMERICANO 01

Olavo de Carvalho comenta o caso Cesare Battisti

As FARC e o silêncio obsequioso

As FARC e o silêncio obsequioso
Por Janer Cristaldo7 de Junho de 2002




Tentando chegar a uma definição aceita universalmente sobre o que seja terror, a ONU até hoje não chegou a nenhuma. Ao tentar uma definição, esbarra numa parede, os países muçulmanos. Se estes países não concordam sobre o que seja terrorismo, chegaram a um consenso sobre o que não é terrorismo: qualquer coisa que se inclua na luta palestina. Trocando em miúdos: um palestino que se enrola em bombas e se explode em meio a civis, velhos, mulheres e crianças, não pode ser definido como terrorista. Porque os árabes não querem.
Se o Ocidente tem conceitos precisos sobre o que seja terror, a Suécia fez uma bela presepada à União Européia no mês passado. Os quinze países da UE pretendiam incluir as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), guerrilha marxista colombiana, na lista de organizações terroristas. Os suecos alegaram que não devem fazer parte da lista organizações que estejam em processo de negociação ou diálogo com seus governos. Ou seja, você pode explodir carros-bomba, matar, seqüestrar, mas não será considerado terrorista enquanto se dispuser a dialogar com as vítimas. Porque os suecos não querem.
A decisão dos suecos foi amplamente divulgada na imprensa internacional e brasileira. Fere a delicada psique das esquerdas associar marxismo a terrorismo. Se nossos jornais se apressaram a divulgar o veto nórdico, há um silêncio obsequioso quando se trata de trazer ao leitor documentos que associem as Farc ao terror. Numa época em que até mesmo órgãos como O Globo e o Estadão abrem colunas para velhos bolcheviques, pouco se pode esperar dos demais jornais, que se pretendem de esquerda ou que pelo menos com as esquerdas simpatizam. Torna-se então inteligível mas nem por isso justificável o silêncio em torno a temas que possam prejudicar o PT.
Embora o partido atualmente as negue, são notórias suas relações com a guerrilha que há décadas vem destruindo a Colômbia. Seus representantes são recebidos com tapete vermelho pelo governo petista gaúcho e fazem palestras em universidades e escolas de prefeituras geridas pelo PT. Se alguém ousa afirmar que as Farc vivem do narcotráfico, não falta um militante indignado para dizer que tais denúncias não passam de estratégia do Estados Unidos para invadir, primeiro a Colômbia, e depois o continente.
O leitor já deve ter notado a escassa presença, nas páginas dos jornais, do narcotraficante Luiz Fernando da Costa, mais conhecido por Fernandinho Beira-Mar. E não é por falta de notícias. Preso em Brasília desde abril do ano passado, Fernandinho aceitou reunir-se com agentes da DEA (Drug Enforcement Administration) e falou de suas relações com a guerrilha colombiana. A gravação desta confissão, pela sua importância, tornou-se a peça-chave que permitiu aos Estados Unidos pedir a extradição de três guerrilheiros das Farc e três narcotraficantes brasileiros, entre eles Fernandinho. Foi publicada, há questão de um mês, na revista colombiana Cambio, dirigida por Gabriel Garcia Márquez. Você pode lê-la, na íntegra, aqui. Na imprensa brasileira, nem um pio sobre este documento.
Em correspondência com meus interlocutores, costumo afirmar que as gentes já não lembram de fatos ocorridos há dez anos. Urge uma errata: não lembram de fatos ocorridos há dois meses. Se o PT hoje nega qualquer relação com as Farc, há poucas semanas elas eram publicamente defendidas pelos militantes. Não bastassem as boas relações do governo gaúcho com a narcoguerrilha colombiana, em março passado, líderes petistas de Ribeirão Preto, ligados ao prefeito Antônio Palocci Filho, coordenador do programa de governo de Luiz Inácio Lula da Silva, anunciaram um comitê pró-Farc no município. Entre as funções do Comitê de Solidariedade ao Povo Colombiano e aos Movimentos de Libertação Nacional estariam colher assinaturas pró-guerrilha e defender as posições do grupo no Brasil. "Precisamos difundir e abrir comitês das Farc no mundo inteiro sobre os problemas que ocorrem naquele país", disse Beto Cangussú, vereador petista. Para selar a união, houve uma reunião em Ribeirão Preto entre o ex-vereador Leopoldo Paulino, o proponente do comitê, e Olivério Medina, porta-voz informal da narcoguerrilha no Brasil, que chegou a ser preso em 2000 em Foz do Iguaçu, a pedido do governo colombiano, acusado de atividades terroristas.
Fernandinho Beira-Mar pagava dois milhões de pesos aos camponeses pela coca, por 600 quilos por semana, e às Farc mais um milhão por cada quilo, para cristalizá-la. Vendia o quilo de cocaína por U$ 3.500 no Brasil. A operação exigia um vôo que custava U$ 15.000, mais U$ 15.000 pelo aluguel da pista de aterrissagem. Mais U$ 25.000 para o piloto e U$ 5.000 para o co-piloto. Fernandinho, que também fornecia munição à guerrilha marxista, chegou a entregar-lhes 150 mil caixas de balas, com 20 balas cada uma. Segundo o narcotraficante brasileiro, as Farc não têm ideologia, Estão ali pela grana, se tornaram capitalistas e só querem a grana, a grana, a grana....
O ex-vereador Leopoldo Paulino pensa diferente. Não é a eleição que vai resolver, é a revolução. Hoje no Brasil não há condição de fazer uma revolução armada, mas na Colômbia não é assim. Eles têm um exército organizado". Este exército redentor são as Farc, é claro.
ONU, árabes ou suecos podem permitir-se uma posição dúbia. Ser benevolente com o terror distante é fácil. Mais difícil é aceitá-lo quando se vive sob sua mira. O PT, herdeiro das mais sinistras ditaduras do século, sente-se naturalmente atraído pela narcoguerrilha marxista. Tenta então desvencilhar-se do aliado inconveniente. Ocorre que o terror está em seu DNA. E produz reflexos condicionados.
Todo leitor adulto deve lembrar-se do belíssimo filme de Kubrick, Dr. Strangelove. No papel-título, temos um cientista alemão paraplégico refugiado nos Estados Unidos, cujo braço direito conserva ainda reflexos dos dias do Reich. Esporadicamente, o braço se ergue em saudação nazista, e Strangelove precisa segurá-lo com a mão esquerda. É o que ocorre com os petistas. Podem reivindicar os melhores propósitos, fazer juras de bom comportamento, mas volta e meia o braço totalitário não resiste e saúda o terror. Como aconteceu na semana passada, quando o PT, au grand complet, prestou homenagens de herói ao terrorista João Amazonas.
Não é conveniente, em ano eleitoral, falar de Fernandinho. Felizmente, vivemos dias de Internet, onde sempre há uma brecha para conjurar o silêncio obsequioso da grande imprensa.

FÓRMULA DA MINHA COMPOSIÇÃO IDEOLÓGICA

FÓRMULA DA MINHA COMPOSIÇÃO IDEOLÓGICA
Olavo de Carvalho

Alguns leitores cobram-me uma autodefinição ideológica. Outros, mais solícitos, apressam-se em fazê-la por mim, catalogando-me seja como neoliberal, seja como anarquista, seja como conservador, seja até como fascista e o diabo a quatro. Surdo às demandas dos primeiros, que me parecem artificiais e de puro capricho, não posso, no entanto, permanecer insensível ante os esforços dos segundos, que traduzem, a olhos vistos, um anseio genuíno e profundo de suas almas, e, mais que um anseio, uma necessidade vital absoluta, a qual, se não atendida, acaba por se atender a si mesma como um estômago de pobre que, desprovido de alimento, se autodigere mediante uma úlcera. Essas pessoas, com efeito, não sabendo o que fazer de suas vidas sem um catálogo ideológico de tudo, e não dispondo de informações cabais sobre a minha personalidade política, acabam por construí-la com pedaços de si mesmas, colhidos nosbas fonds dos seus respectivos subconscientes e constituídos substancialmente de temores, suspeitas, fantasias macabras e uma vasta coleção de demônios.
Não suportando mais ver tanto sofrimento inútil, nem me conformando com tamanho desperdício de criatividade que mais utilmente se empregaria no hobby literário, ao qual algumas dessas criaturas aliás se dedicam nas horas vagas de seu penoso mister catalogante, decido-me, pois, a fornecer enfim meu perfil ideológico, e não apenas meu perfil de ambos os lados mas também meu auto-retrato de frente e de costas. Direi, em suma, o que vocês querem saber, que não é necessariamente o que vocês querem ouvir.
Infelizmente, não posso me definir com uma só palavra, como seria do gosto de tantos, pela simples razão de que não acredito haver algum conceito abrangente capaz de juntar, numa só unidade compacta, as diferentes atitudes e opiniões de um indivíduo ante os diversos setores da vida. O tipo assim descrito teria a coerência em bloco de uma caricatura, de um Idealtypusweberiano ou de um arquétipo platônico, mas nada teria de um ser humano1.
Toda fórmula ideológica pessoal compõe-se de um amálgama de preferências e repulsas variadas, umas referentes à política, outras à moral, outras à religião, outras à vida econômica e assim por diante. Esses vários elementos não formam quase nunca uma unidade coerente, embora tendam à coerência como numa assíntota, aproximando-se dela sem jamais alcançá-la. Tal esforço de coerenciação denomina-se, precisamente, filosofia, uma atividade que, pela própria natureza, é constante e sempre inacabada.
Não podendo, portanto, me definir com um termo unívoco, limito-me a dar uma lista dos vários elementos que compõem, como podem, minha ideologia pessoal.
1. Em economia, sou francamente liberal. Acho que a economia de mercado não só é eficaz, mas é intrinsecamente boa do ponto de vista moral, e que a concorrência é saudável para todos. Há dois tipos de pessoas que não gostam da concorrência: os comunistas e os monopolistas. Às vezes é difícil distingui-los. Quem foi que disse: "A concorrência é um pecado"? O Dr. Leonardo Boff adoraria ter dito, mas não disse. Quem disse foi John D. Rockefeller. E, como se vê pelo episódio bíblico de Marta e Maria (ou de Esaú e Jacó), a concorrência não é pecado nenhum. Pecado é um sujeito ser John D. Rockefeller ou o Dr. Leonardo Boff.
Como liberal sou contra o socialismo e contra toda forma de Estado corporativo, seja de estilo mussoliniano, seja católico. Acredito, com Sto. Tomás, que há um preço justo para cada coisa. Mas, como observavam os conimbricenses, o número de variáveis a levar em conta no cálculo do preço justo é ilimitado, e a única maneira de encontrá-lo é deixar que as pessoas discutam livremente e admitir que, de algum modo, vox populi, vox Dei. O Estado existe apenas para impedir que os concorrentes se comam vivos, para assegurar as condições logísticas da prática do liberalismo e para, last not leastamparar in extremis quem não tenha a mínima condição de concorrer no mercado.
2. Em religião, sou tradicionalista e conservador. Não, não sou eu que sou assim. Religião é tradição e conservação. É o fator de imutabilidade que faz contraponto à História, e sem o qual o movimento não seria sequer percebido. Por isto, o Concílio Vaticano II podia ter mexido em tudo, menos no essencial: o rito e a doutrina. Ao contrário, ele virou o essencial de pernas para o ar, apegando-se idolatricamente à imutabilidade do secundário, como por exemplo o celibato dos padres. Tendo invertido o senso das proporções, o Concílio tornou a Igreja uma instituição insensata e ridícula, que condena seus próprios santos enquanto se prosterna ante os inimigos. Mas não defendo a imutabilidade só do Catolicismo: acharia uma insensatez mudar uma só palavra do Corão, da Torá ou dos Vedas.
3. Em moral, sou anarquista. Acredito que há princípios morais universais, permanentes, que a inteligência discerne por baixo da variação acidental das normas e costumes, e acredito, enfim, que há o certo e o errado. Mas, por isso mesmo, impor o certo é errado, a não ser em caso de vida ou morte. O sujeito que faz o certo só por obediência e sem compreendê-lo acaba por transformá-lo no errado. "Experimentai de tudo e ficai com o que é bom", recomendava S. Paulo Apóstolo, meu amado guru. É uma questão de viver e aprender. Mas como podemos aprender, se um tirano paternalista nos proíbe de errar? Por isto deve haver a mais ampla liberdade de escolha e de conduta, e a autoridade religiosa deve se limitar a ensinar o certo, com toda a paciência, sem tentar expulsar o pecado do mundo à força. E se nem os religiosos, que por sua dedicação à vida interior têm autoridade para falar dessas coisas, devem impor regras morais à força, muito menos deve fazê-lo o Estado, que afinal não passa de uma gerência administrativa, a coisa mais mundana e prosaica que existe. As leis devem fundar-se apenas em considerações práticas de ordem, segurança e interesse coletivo, muito corriqueiras, e jamais em motivos pretensamente elevados de ética, que terminam por fazer da burocracia estatal um novo clero, e do Código Penal um novo Decálogo. A coisa mais nojenta que existe é a metafísica estatal.
4. Em educação, sou mais anarquista ainda: não acredito em ensino obrigatório do que quer que seja e noto que a expansão hipertrófica do sistema de ensino, público ou privado, só cria novas formas de analfabetismo. Acho que a educação deveria ser livre, que cada um deve buscá-la na medida de suas necessidades, e considero uma monstruosidade totalitária que, após proclamá-la um direito, o Estado moderno faça dela um direito obrigatório. Acho aliás que o mesmo se dá com muitos outros "direitos", que você acaba exercendo a muque ou sob pena de prisão. Era um absurdo que as mulheres não pudessem trabalhar, mas é um absurdo maior ainda que, obrigadas a trabalhar, não possam ficar em casa para criar seus filhos. Complementarmente, é um crime que se obrigue uma criança a fazer trabalho de adulto, mas é um crime maior ainda que ela seja impedida de ganhar seu próprio dinheiro, fazendo, se quiser, um trabalho que esteja à altura de suas capacidades e que, no fim, há de educá-la muito mais do que qualquer escola. Tornei-me jornalista ainda quase um menino, aos dezessete anos, e aprendi na redação o que três décadas de escola não me ensinariam. Esta porcaria de governo que temos hoje me tiraria de lá e me poria numa escola para aprender português nos livros de Paulo Coelho.
5. Em política internacional, e sobretudo em comércio internacional, sou radicalmente nacionalistaprotecionista e tudo o mais que os globalistas odeiam. Isso não quer dizer que eu seja contra a globalização da economia. Muito menos há aí qualquer contradição com a crença liberal acima subscrita. Apenas, entendo que globalismo não é o mesmo que monopolismo das grandes multinacionais, e que, assim como estas se associam umas com as outras – e com certos Estados – para ficar mais fortes, é justo que o empresário nacional, sobretudo o pequeno, busque apoio do seu próprio governo para não ser esmagado pelos monopólios internacionais. Aí a intervenção do Estado não é contra o liberalismo ou a concorrência: ela é, ao contrário, o fator equilibrante que impede a extinção do liberalismo e sua substituição pelo monopolismo. O mais detestável dos socialismos é o socialismo dos ricos.
6. Em filosofia, sou realista, meus gurus sendo Aristóteles, Sto. Tomás, Leibniz, Husserl e Xavier Zubiri, todos os quais afirmam o poder humano de conhecer as coisas como são. Husserl e Zubiri, no meu entender, foram os únicos filósofos realmente grandes deste século, e perto deles um Foucault ou um Deleuze são apenas meninos de escola. Acho que marxismo, estruturalismo, desconstrucionismo, psicanálise, neo-relativismo, neopositivismo, etc. etc., são filosofias boas para analfabetos funcionais e portanto atendem a uma autêntica necessidade social criada pela rápida expansão do ensino universitário, onde é preciso fabricar professores cada vez mais rápido e cada vez mais barato. Ler o Dr. Freud, PoulantzasLa Pensée Sauvage ou Richard Rorty já é esforço bastante para essa gente, que morreria de congestão cerebral após meia página de Zubiri ou das Investigações Lógicas.
7. Em História, acredito na relatividade do progresso e acho que todo progresso se paga com perdas que nem sempre valem a pena. É claro que aprecio os computadores e os direitos constitucionais, mas penso nos milhões de vidas humanas que foram sacrificadas no altar do progresso e me pergunto se nós, sobreviventes, não saímos diminuídos moralmente pelos próprios benefícios que recebemos2. Um índio, que anda pelado no meio do Xingu, não tem Internet mas não carrega, nas costas, o peso de tantos pecados históricos. O progresso, sem dúvida, é vantajoso. Mas não tem a dignidade de um genuíno ideal moral. É apenas uma conveniência prática, e quando procura se enfeitar com uma ideologia autoglorificadora, com as pompas de uma utopia futurista, sobretudo "científica", aí, meus filhos, é que ele se encarna num Robespierre, num Lênin, num Hitler, num Mao, num desses monstros que os séculos antigos não poderiam sequer imaginar. Gosto do progresso, não nego. Mas não sou seu entusiasta e não sacrificaria, por ele, a vida de um cabrito. O progresso tanto mais vale quanto menos custa.
8. Em todos os domínios e circunstâncias, sou contra o governo mundial. Ninguém deve governar o mundo, senão Deus. A ONU, a Unesco, o Banco Mundial, as grandes corporações multinacionais, a Internacional Socialista e todas as entidades do gênero são para mim a encarnação mesma da megalomania e do desejo ilimitado de poder. Isso não quer dizer que os Estados nacionais sejam anjinhos, pois, como já informava a Bíblia, "os anjos das nações são demônios". Quer dizer apenas que o chefe mundial dos demônios é muito pior do que todos eles somados.
Que as pessoas acostumadas a identificar globalização e liberalismo não vejam aí contradição alguma. A unificação política e administrativa do mundo não beneficiará o liberalismo, mas o extinguirá para sempre, instituindo a "Terceira Via". Que é a Terceira Via? É aquela síntese de capitalismo e socialismo que, resguardando a liberdade de movimento para as grandes empresas que apoiam o governo, planeja, controla e determina tudo o mais. Essa síntese não é nova. Surgiu na década de 20 e se chama fascismo. Naquela época o fascismo era coisa de escala nacional. Hoje querem fazer um fascismo mundial e, para disfarçar, fazem campanhas alarmistas contra os remanescentes do fascismo old style, como Le Pen e o Dr. Enéias, os mais autênticos bois-de-piranha da boiada universal. Para enfrentar o governo mundial é preciso criar um novo nacionalismo, liberal, democrático, inteligente, capaz de tomar parte no jogo da globalização sem deixar que transformem nosso país numa província ou numa colônia de férias para turistas sexuais. E para isso é preciso resistir ao maquiavélico jogo duplo que, de um lado, exaltando falsamente o liberalismo, tudo submete a um planejamento global e, de outro, incentivando maliciosamente reivindicações socialistas malucas e toda sorte de ressentimentos doentios, divide o povo, desorienta os intelectuais, debilita o Estado brasileiro e nos deixa, a todos, à mercê do poder multinacional.
Foi para atender aos ditames dessa minha ideologia compósita, segundo as várias exigências que me parecessem mais razoáveis no momento e na situação, que já tive a ocasião de votar em Lula e em Roberto Campos, em Maluf e Brizola, em Ulisses Guimarães e em Delfim Netto, em Franco Montoro e em Fernando Henrique Cardoso. Não votei em Collor: tomei um Engove e votei no Lula. Na eleição seguinte, não votei em Lula: tomei um Engove e votei em FHC. Mas escolhi sempre conforme o detalhe concreto do que estivesse em discussão e não conforme aquela linearidade rígida de quem é "direitista" ou "esquerdista" como se torce pelo Coríntians ou se crê em Jesus Cristo: de uma vez por todas e por toda a vida. Pois esta coerência só se pode ter nas coisas profundas, duráveis e do coração, e não nessa agitação epidérmica que é a política, onde, sem aviso prévio, de repente as pessoas, idéias e coisas se convertem em seus contrários.
23/12/98

NOTAS:
  1. Talvez por isso os líderes de maior coerência ideológica em bloco, na história do nosso país, foram também os mais estéreis politicamente, como Carlos Lacerda e Luís Carlos Prestes, ao passo que outros deixaram obra mais durável justamente porque se permitiram ajustes e combições "pragmáticas". Voltar
  2. Isso não implica a adesão a nenhuma teoria maluca da "culpa coletiva". O que digo é que nos tornamos culpados, individual e concretamente, pelos custos do progresso, na medida em que aceitamos seus benefícios levianamente, sem gratidão consciente pelas gerações que se sacrificaram por nós. Voltar

O imbecil juvenil

O imbecil juvenil 
Jornal da Tarde, São Paulo, 3 abr. 1998

        Já acreditei em muitas mentiras, mas há uma à qual sempre fui imune: aquela que celebra a juventude como uma época de rebeldia, de independência, de amor à liberdade. Não dei crédito a essa patacoada nem mesmo quando, jovem eu próprio, ela me lisonjeava. Bem ao contrário, desde cedo me impressionaram muito fundo, na conduta de meus companheiros de geração, o espírito de rebanho, o temor do isolamento, a subserviência à voz corrente, a ânsia de sentir-se iguais e aceitos pela maioria cínica e autoritária, a disposição de tudo ceder, de tudo prostituir em troca de uma vaguinha de neófito no grupo dos sujeitos bacanas.
        O jovem, é verdade, rebela-se muitas vezes contra pais e professores, mas é porque sabe que no fundo estão do seu lado e jamais revidarão suas agressões com força total. A luta contra os pais é um teatrinho, um jogo de cartas marcadas no qual um dos contendores luta para vencer e o outro para ajudá-lo a vencer.
        Muito diferente é a situação do jovem ante os da sua geração, que não têm para com ele as complacências do paternalismo. Longe de protegê-lo, essa massa barulhenta e cínica recebe o novato com desprezo e hostilidade que lhe mostram, desde logo, a necessidade de obedecer para não sucumbir. É dos companheiros de geração que ele obtém a primeira experiência de um confronto com o poder, sem a mediação daquela diferença de idade que dá direito a descontos e atenuações. É o reino dos mais fortes, dos mais descarados, que se afirma com toda a sua crueza sobre a fragilidade do recém-chegado, impondo-lhe provações e exigências antes de aceitá-lo como membro da horda. A quantos ritos, a quantos protocolos, a quantas humilhações não se submete o postulante, para escapar à perspectiva aterrorizante da rejeição, do isolamento. Para não ser devolvido, impotente e humilhado, aos braços da mãe, ele tem de ser aprovado num exame que lhe exige menos coragem do que flexibilidade, capacidade de amoldar-se aos caprichos da maioria - a supressão, em suma, da personalidade.
        É verdade que ele se submete a isso com prazer, com ânsia de apaixonado que tudo fará em troca de um sorriso condescendente. A massa de companheiros de geração representa, afinal, o mundo, o mundo grande no qual o adolescente, emergindo do pequeno mundo doméstico, pede ingresso. E o ingresso custa caro. O candidato deve, desde logo, aprender todo um vocabulário de palavras, de gestos, de olhares, todo um código de senhas e símbolos: a mínima falha expõe ao ridículo, e a regra do jogo é em geral implícita, devendo ser adivinhada antes de conhecida, macaqueada antes de adivinhada. O modo de aprendizado é sempre a imitação - literal, servil e sem questionamentos. O ingresso no mundo juvenil dispara a toda velocidade o motor de todos os desvarios humanos: o desejo mimético de que fala René Girard, onde o objeto não atrai por suas qualidades intrínsecas, mas por ser simultaneamente desejado por um outro, que Girard denomina o mediador.
      Não é de espantar que o rito de ingresso no grupo, custando tão alto investimento psicológico, termine por levar o jovem à completa exasperação impedindo-o, simultaneamente, de despejar seu ressentimento de volta sobre o grupo mesmo, objeto de amor que se sonega e por isto tem o dom de transfigurar cada impulso de rancor em novo investimento amoroso. Para onde, então, se voltará o rancor, senão para a direção menos perigosa? A família surge como o bode expiatório providencial de todos os fracassos do jovem no seu rito de passagem. Se ele não logra ser aceito no grupo, a última coisa que lhe há de ocorrer será atribuir a culpa de sua situação à fatuidade e ao cinismo dos que o rejeitam. Numa cruel inversão, a culpa de suas humilhações não será atribuída àqueles que se recusam a aceitá-lo como homem, mas àqueles que o aceitam como criança. A família, que tudo lhe deu, pagará pelas maldades da horda que tudo lhe exige.
        Eis a que se resume a famosa rebeldia do adolescente: amor ao mais forte que o despreza, desprezo pelo mais fraco que o ama.
        Todas as mutações se dão na penumbra, na zona indistinta entre o ser e o não-ser: o jovem, em trânsito entre o que já não é e o que não é ainda, é, por fatalidade, inconsciente de si, de sua situação, das autorias e das culpas de quanto se passa dentro e em torno dele. Seus julgamentos são quase sempre a inversão completa da realidade. Eis o motivo pelo qual a juventude, desde que a covardia dos adultos lhe deu autoridade para mandar e desmandar, esteve sempre na vanguarda de todos os erros e perversidade do século: nazismo, fascismo, comunismo, seitas pseudo-religiosas, consumo de drogas. São sempre os jovens que estão um passo à frente na direção do pior.
        Um mundo que confia seu futuro ao discernimento dos jovens é um mundo velho e cansado, que já não tem futuro algum.

Olavo de Carvalho - O Brasil e a expectativa quanto à estatura humana.

Olavo de Carvalho Brasil e Brasileiros 3

Foro de São Paulo: Petistas e esquerdistas - implantar Socialismo e Comu...

Olavo de Carvalho e os "1000 Anos de Trevas"

Olavo de Carvalho Porque a Xereca Pisca no Ensino do Brasil

Olavo de Carvalho analisa a cultura brasileira - Rede Vida 2

Primeiro-ministro britânico ataca doutrina do multiculturalismo

SAIBA UM POUCO MAIS SOBRE A IRMANDADE MUÇULMANA

FHC - “A oposição tem de falar, e falar forte, sem se perder em questiúnculas internas”


06/02/2011
 às 4:13

FHC - “A oposição tem de falar, e falar forte, sem se perder em questiúnculas internas”

Leia o artgo que Fernando Henrique Cardoso publica neste domingo em vários jornais do país. Irretocável!
Novo ano, nova presidente, novo Congresso atuando no Brasil de sempre, com seus êxitos, suas lacunas e suas aspirações. Tempo de muda, palavra que no dicionário se refere à troca de animais cansados por outros mais bem dispostos, ou de plantas que dos vasos em viveiro vão florescer em terra firme. A presidente tem um estilo diferente do antecessor, não necessariamente porque tenha o propósito de contrastar, mas porque seu jeito é outro. Mais discreta, com menos loquacidade retórica. Mais afeita aos números, parece ter percebido, mesmo sem proclamar, que recebeu uma herança braba de seu patrono e de si mesma. Nem bem assume e seus porta-vozes econômicos já têm de apelar para as mágicas antigas (quanto foi mal falado o doutor Delfim, que nadava de braçada nos arabescos contábeis para esconder o que todos sabiam!), porque a situação fiscal se agravou. Até os mercados, que só descobrem estas coisas quando está tudo por um fio, perceberam. Mesmo os “velhos bobos ortodoxos do FMI”, no linguajar descontraído do ministro da Fazenda, viram que algo anda mal.
Seja no reconhecimento mal disfarçado da necessidade de um ajuste fiscal, seja no alerta quanto ao cheiro de fumaça na compra a toque de caixa dos jatos franceses, seja nas tiradas sobre os até há pouco tempo esquecidos “direitos humanos”, há sinais de mudança. Os pelegos aliados do governo que enfiem a viola no saco, pois os déficits deverão falar mais alto do que as benesses que solidarizaram as centrais sindicais com o governo Lula.
Aos novos sinais se contrapõem os amores antigos: Belo Monte há de vir à luz por cesariana, esquecendo as preocupações com o meio ambiente e com o cumprimento dos requisitos legais; as alianças com os partidos da “governabilidade” continuarão a custar caro no Congresso e nos Ministérios, sem falar no “segundo escalão”, cujas joias mais vistosas, como Furnas (está longe de ser a única), já são objeto de ameaças de rapto e retaliação.
Diante de tudo isso, como fica a oposição?
Digamos que ela quer ser “elevada”, sem sujar as mãos (ou a língua) nas nódoas do cotidiano nem confundir crítica ao que está errado com oposição ao País (preocupação que os petistas nunca tiveram quando na oposição). Ainda assim, há muito a fazer para corresponder à fase de “muda”. A começar pela crítica à falta de estratégia para o País: que faremos para lidar com a China (reconhecendo seu papel e o muito de valioso que podemos aprender com ela)? Não basta jogar a culpa da baixa competitividade nas altas taxas de juros. Olhando para o futuro, teremos de escolher em que produtos poderemos competir com China, Índia, asiáticos em geral, Estados Unidos, etc. Provavelmente serão os de alta tecnologia, sem esquecer que os agrícolas e minerais também requerem tal tipo de conhecimento. Preparamo-nos para a era da inovação? Reorientamos nosso sistema escolar nessa direção? Como investir em novas e nas antigas áreas produtivas sem poupança interna? No governo anterior os interesses do Brasil pareciam submergir nos limites do antigo “Terceiro Mundo”, guiados pela retórica do Sul-Sul, esquecidos de que a China é Norte e nós, mais ou menos. Definimos os Estados Unidos como “o outro lado” e percebemos agora que suas diferenças com a China são menores do que imaginávamos. Que faremos para evitar o isolamento e assegurar o interesse nacional sem nos guiarmos por ideologias arcaicas?
Há outros objetivos estratégicos. Por exemplo, no caso da energia: aproveitaremos de fato as vantagens do etanol, criaremos uma indústria alcoolquímica, usaremos a energia eólica mais intensamente? Ou, noutro plano, por que tanta pressa para capitalizar a Petrobrás e endividar o Tesouro com o pré-sal em momento de agrura fiscal? As jazidas do pré-sal são importantes, mas deveríamos ter uma estratégia mais clara sobre como e quando aproveitá-las. O regime de partilha é mesmo mais vantajoso? Nada disso está definido com clareza.
O governo anterior sonegava à população o debate sobre seu futuro. O caminho a ser seguido era definido em surdina nos gabinetes governamentais e nas grandes empresas. Depois se servia ao País o prato feito na marcha batida dos projetos-impacto do tipo trem-bala, PACs diversos, usinas hidrelétricas de custo indefinido e serventia pouco demonstrada. Como nos governos autoritários do passado. Está na hora de a oposição berrar e pedir a democratização das decisões, submetendo-as ao debate público.
Não basta isso, entretanto, para a oposição atuar de modo efetivo. Há que mexer no desagradável. Não dá para calar diante de a Caixa Econômica ter-se associado a um banco já falido, que agora é salvo sem transparência pelos mecanismos do Proer e assemelhados. E não foi só lá que o dinheiro do contribuinte escapou pelos ralos para subsidiar grandes empresas nacionais e estrangeiras, via BNDES. Não será tempo de esquadrinhar a fundo a compra dos aviões? E o montante da dívida interna, que ultrapassa R$ 1,6 trilhão, não empana o feito da redução da dívida externa? E dá para esquecer os cartões corporativos usados pelo Alvorada, que foram tornados “de interesse da segurança nacional” até ao final do governo Lula para esconder o montante dos gastos? Não cobraremos agora a transparência? E o ritmo lento das obras de infraestrutura, prejudicadas pelo preconceito ideológico contra a associação do público com o privado, contra a privatização necessária em casos específicos, passará como se fosse contingência natural? Ou as responsabilidades pelos atrasos nas obras viárias, de aeroportos e de usinas serão cobradas? Por que não começar com as da Copa, libertas de licitação e mesmo assim dormindo em berço esplêndido?
Há, sim, muita coisa para dizer nesta hora de “muda”. Ou a oposição fala, e fala forte, sem se perder em questiúnculas internas, ou tudo continuará na toada de tomar a propaganda por realização. Mesmo porque, por mais que haja nuances, o governo é um só Lula-Dilma, governo do PT ao qual se subordinam ávidos aliados.
Por Reinaldo Azevedo