quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Dilma no Congresso e seu Discurso...

02/02/2011

às 19:55

Uma fala interminável sobre tudo e sobre nada

Quem tem muitas prioridades acaba sem nenhuma. Dilma Rousseff fez sua saudação ao Congresso num discurso interminável: 3060 palavras, 16.555 caracteres (sem contar os espaços), uma penca de promessas e auroras.

Parecia estar de novo em campanha eleitoral. No Congresso, mais do que em qualquer outro lugar, deveria ter exibido o seu compromisso com a verdade, com a história. Lembrou as conquistas sociais dos últimos oito anos. Como se nada tivesse havido antes além do esforço em favor da democratização. Isso é fala de palanque. Dona Dilma Primeira fica melhor quando não fala, a Muda! Comentarei outros aspectos do discurso. A íntegra está Aqui

Por Reinaldo Azevedo

02/02/2011

às 20:38

Discurso de Dilma: Rainha revoluciona língua e cria a “prioridade central”

Para quem aprecia a língua portuguesa — e não é exatamente o caso de Dona Dilma Primeira —, a rainha cravou uma expressão deliciosa em seu discurso: a “prioridade central”. A “prioridade central” vem a ser aquela que, de tão primeira, fica no centro, jamais no topo ou à frente. Por central, ela vive rodeada. Rodeada de quê? De prioridades secundárias, quero crer.

Tal expressão é uma boa síntese do seu discurso, uma maçaroca que, como já disse, trata de tudo e de nada ao mesmo tempo. Escolha, leitor: salário mínimo, tragédia no Rio, educação, saúde, segurança pública, PAC, pré-sal, meio ambiente, política externa, reforma política, reforma tributária, melhoria do gasto público. Em qualquer desses assuntos, ficamos sabendo que o governo já fez muito e muito mais pode fazer.

Há coisas que chegam a ser engraçadas. Ela promete entregar 500 UPAs até 2014. Ok. Isso dá sumiço em outras 500, que deveriam ter sido entregues até 2010. Fizeram-se apenas 91.

Sobre o programa Minha Casa, Minha Vida, afirmou a presidente: “No Programa Minha Casa, Minha Vida, está prevista a construção de 2 milhões de novas habitações até 2014, envolvendo investimento de R$ 278,2 bilhões.” Do primeiro milhão, entregaram-se apenas 15%.

E as mistificações continuaram, com referências discretas à reforma política e à reforma tributária, mais Mercosul, Unasul etc e tal. Dilma falou sobre tudo, Dilma falou sobre nada. Mas nada se iguala ao estelionato escandaloso das UPAs, a que volto no próximo post.

Por Reinaldo Azevedo

02/02/2011

às 21:02

No Congresso, Dilma dá um beiço em 500 UPAs!!! E a oposição deve ficar caladinha, querem apostar?

É impressionante. Se você clicar aqui, vai entrar na página oficial da então candidata Dilma Rousseff. No dia 18 de outubro, podia-se ler no site:

“As Unidades de Pronto Atendimento (UPA) 24 horas, um dos destaques do programa de governo da candidata Dilma Rousseff, vem fazendo a diferença na reestruturação do funcionamento do SUS. Temporão informou que, até o final do ano, serão 500 UPAs construídas. “Dilma prometeu construir mais 500 até o final de 2014. Serão mil unidades para atender toda a população.”

Não há a menor dúvida sobre quantas são as UPAs prometidas até 2014: 1.000. Estávamos em outubro, e José Gomes Temporão prometeu entregar 500 até o fim de 2010. No vídeo gravado para a campanha, também publicado na página oficial de Dilma, ele é claríssimo. Está no intervalo entre 1min17 e 1min27.

Dilma no Congresso
E o que disse Dilma no Congresso?

“Em relação às UPAs, destaco que será de fundamental importância a parceria da União com os Estados e Municípios. A meta de implantação de 500 UPAs para garantir atendimento médico adequado a urgências de baixa e média complexidade e reduzir a superlotação das emergências dos grandes hospitais será alcançada com o investimento de R$ 2,6 bilhões.”

Foram entregues apenas 91 UPAs até 2010. O governo Lula-Dilma ficou devendo a bagatela de 409! Agora, vejam só, prometem-se 500, sim, mas até 2014. Se cumprida a nova promessa, a Rainha Dilma Primeira terá dado um beiço nos brasileiros de 500 UPAs.

Boa parte da imprensa não se interessa por isso. O destaque será dado à cascata do pacto contra a miséria e a fome etc e tal. O país precisaria ter oposição justamente para isto: para cobrar, com a força de sua representação política — e foi eleita para isso —, que o governo cumpra as suas promessas ou arque com custo de não cumpri-las.

As democracias não existem para que os governantes tornem verdadeiras suas inverdades, como se ditadores fossem. Nem Mubarak consegue mais, não é mesmo?

Por Reinaldo Azevedo

02/02/2011

às 21:16

Para Aécio, Dilma mostrou “conjunto genérico de boas intenções”

Na Folha Online:
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) classificou como um “conjunto genérico de boas intenções” a mensagem presidencial lida por Dilma Rousseff na tarde desta quarta-feira no Congresso.

“Eu guardei meus aplausos para o momento que essas questões [reformas política e tributária] forem efetivamente cumpridas”, afirmou o senador, um dos líderes da oposição.

Segundo o tucano, a mensagem de Dilma foi idêntica a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início de seus dois mandatos. “Estou esperando as mesmas reformas que foram anunciadas pelo presidente Lula serem efetivadas”, afirmou Aécio.

No discurso, Dilma se comprometeu a trabalhar em conjunto com o Congresso para aprovar essas reformas. Ao citar a necessidade uma reforma política, a presidente foi aplaudida, num momento de maior descontração.

“Trabalharemos em conjunta com essa Casa para a retomada da agenda da reforma política”, afirmou Dilma, cortada por aplausos dos deputados e senadores. Diante da interrupção, disse: “Vou até repetir”. Ao repetir a frase, foi novamente aplaudida. A presidente reagiu com um sorriso.

Para Aécio, a presidente deveria ter apresentado compromissos mais claros neste momento porque “reforma constitucional se faz no início de mandato” “Temos a experiência no Parlamento no Brasil que não se aprova reforma constitucional sem o governo tomar partido”, afirmou o tucano.

Por Reinaldo Azevedo

Panamericano - Reinaldo Azevedo


02/02/2011
 às 17:51

O cheiro ruim que vem do Panamericano

Algo não fecha na chamada “Operação Panamericano”. Já com o que se sabe, o cheiro é péssimo e afronta o bom senso e a moralidade. E tenho para mim que não sabemos da missa a metade. Falo no próximo post.
Por Reinaldo Azevedo



02/02/2011
 às 18:03

As estranhezas da Operação Panamericano: o novo empréstimo

A imprensa especializada que está cobrindo a questão do Panamericano parece estar pautada por algum ente estranho à lógica e deixa de fazer, parece-me, algumas perguntas essências. Bem, o resumo é este:
- Descobriu-se um rombo de R$ 2,5 bilhões no banco;
- o Fundo Garantidor — sempre chamado de “privado”; já trato do assunto — cobriu o rombo conhecido com um empréstimo correspondente ao valor;
- em troca, Silvio Santos deu suas empresas como garantia;
- soube-se depois que o rombo, na verdade, era de quase R$ 4 bilhões;
- o mesmo fundo teve de fazer um novo “empréstimo”. Atenção: não se noticiou qual foi a garantia adicional dada por Silvio Santos;
- os banqueiros do fundo toparam dar o dinheiro, mas exigiram que Silvio vendesse o banco
Acompanharam até aqui? Pois bem. Já há um troço que não fecha aqui. Esse novo “empréstimo” de R$ 1,5 bilhão teve qual garantia? Sigo no próximo post.
Por Reinaldo Azevedo



02/02/2011
 às 18:14

Panamericano: rumo à solução mágica

Àquela altura, o buraco do banco de Silvio Santos era de R$ 4 bilhões, e suas empresas estavam todas empenhadas ao tal fundo garantidor, certo? E era preciso vender o banco — ou liquidá-lo—-, fazendo com que seu controlador arcasse com os custos da operação. Mas eis que uma mágica se deu.
- Silvio Santos fazia jogo duro e ameaçava não vender o banco coisa nenhuma; o BC que o liquidasse;
- muito bem, segundo a versão passada à imprensa e docemente comprada pelos jornalista, se isso acontecesse, para o tal fundo, seria pior, pois:
a) arcaria com os R$ 2,5 bilhões da grana já posta lá;
b) teria de suportar mais 2,2 bilhões para cobrir depósitos de clientes, somando R$ 4,7 bilhões;
- Epa! Está faltando uma coisinha aí: e as empresas de Silvio Santos dadas como garantia? Desapareceram da equação por quê?
- Para evitar o que seria, então, o mal maior, o fundo decidiu fazer o empréstimo; nada de liquidação;
- falou-se até em certo risco de outras instituições financeiras do ramo, que poderiam ser afetadas, etc e tal.
E foi aí que aparece a solução mágica - ao menos para Silvio Santos, como veremos.
Por Reinaldo Azevedo



02/02/2011
 às 18:25

Milagre do capitalismo jabuticaba - Silvio acordou devendo R$ 4,bi e sem suas empresas; foi dormir sem dívida e com o patrimônio de volta

Num evento inédito na história do capitalismo, o home que está com um espeto de R$ 4 bilhões nas costas impõe a solução a seus credores. Surge um comprador para o Panamericano! Vai assumir tudo, inclusive o buraco? Nada disso!
- o Panamericano é vendido ao BTG Pactual pagou pelas ações do Panamercano R$ 450 milhões, recolhidos o tal FGC (Fundo Garantidor de Crédito);
- e o buraco de R$ 4 bilhões? Bem, Silvio Santos teria feito uma exigência: só faria o negócio se o R$ 450 milhões anulassem a sua dívida de R$ 4 bilhões. E os FGC devolveria as suas empresas dadas como garantia;
- e assim se fez,consta! Isto mesmo! Da noite para o dia, o camelô teria dado um truque no capitalismo brasileiro e em seus competentes banqueiros;
- acordou devendo R$ 4 bilhões e, na prática, sem empresa nenhuma;
- foi dormir e já não devia um tostão e tinha de volta suas empresas, ali avaliadas, então, em R$ 2,5 bilhões;
- nunca antes na história destepaiz se viu algo parecido. E certamente nunca se fez algo parecido - nem aqui nem no mundo. Volto no próximo post.
Por Reinaldo Azevedo



02/02/2011
 às 18:39

Então o camelô deu um beiço de mais de R$ 3 bilhões nos espertos banqueiros brasileiros?

Muito bem. E onde foi parar o rombo do Panamericano? Segundo consta, no tal FGC (Fundo Garantidor de Crédito). O pagamento do BTG a Silvio, que repassou os papéis ao Fundo, foi feito em títulos. Se forem honrados agora, a entidade dos banqueiros toma um espeto de R$ 3,35 bilhões. Mas o comprador tem até 2018 para fazê-lo, com juros de 13% ao ano. Se esperar até lá, recolherá ao FGC R$ 3,8 bilhões — o valor que foi emprestado, sim, mas só daqui a quase 20 anos.
Vocês me perdoem o espírito de desconfiança, mas a história é muito suspeita. E realmente não acho que nossos rigorosos banqueiros se deixariam tungar, assim, pelo camelô do crédito de risco. Aqui e ali se falou em “Proer privado”. Não é, não. O Proer liquidou os bancos podres, e seus controladores arcaram com o custo da liquidação. Perderam patrimônio. Agora, vejam que fabuloso!, uma entidade de banqueiros atuou como uma verdadeira Casa da Fraternidade. O que há de errado aí?
Por Reinaldo Azevedo



02/02/2011
 às 18:57

Mas o que há de errado nesse imbróglio do Panamericano?

Mas o que há de errado nisso tudo? Vamos ver. Bancos podem ser privados, mas lidam com a fé pública e podem causar estragos aos países. Por isso são uma atividade bastante regulada, que o governo acompanha de perto. Um banqueiro, e Silvio era um — e pouco importa se ficava jogando aviãozinho de R$ 50 para suas colegas de trabalho enquanto seus executivos faziam lambança —, não pode sair por aí dando um pequeno truque de… R$ 4 bilhões. Qual é?
O sistema era tão frágil a ponto de a liquidação do Panamericano ser considerada preocupante? Ora, dizem que não. Se não era, por que o privilégio, ainda que concedido “de banqueiro para banqueiro”.
“O dinheiro do Fundo Garantidor de Crédito é privado, Reinaldo! Banqueiro dá para quem quiser”. É… Bem, eu estou entre aqueles que acreditam firmemente que o custo desse fundo é, de algum modo, repassado ao distinto público. O sistema bancário brasileiro não está entre aqueles que oferecem os serviços mais baratos a seus clientes, não é mesmo? E penso ainda em outra questão, que fica para o próximo post.
Por Reinaldo Azevedo



02/02/2011
 às 19:26

O Brasil de fato mudou; no governo FHC, banqueiro incompetente quebrava; no governo Lula, recebem socorro de banco oficial

Existe um escândalo de natureza pública, sim, na raiz do que se pretende apenas uma imoralidade entre privados, ainda muito mal explicada: a compra de parte das ações do Panamericano pela Caixa Econômica Federal. Faz pouco mais de um ano, a CEF pagou R$ 739,2 milhões por 49% do capital votante do banco e 20,7% das ações preferenciais. Ou seja: um banco público e seus especialistas torraram uma montanha de dinheiro para comprar um banco quebrado, podre.
Desde logo, estamos diante de uma evidência: se o Banco quebra, o fato arranharia a imagem da CEF, que, até agora, passa incólume por tudo isso, como se tivesse feito um negocião. Assim, a decisão do Fundo Garantidor de Crédito não privilegia apenas Silvio Santos, mas também livra a Caixa de um belo vexame.
O que me pergunto é se os generosos banqueiros brasileiros não estão recebendo pressão vinda de cima, com garantia de compensações, para fazer o que nunca se fez antes na história destepaiz.
O Brasil do lulo-petismo, de fato, é diferente. No tempo de FHC, banqueiros quebravam - inclusive o outro avô de seus netos e um ministro seu. No novo modelo, eles começam recebendo socorro de banco público e terminam livres, leves e soltos, com o bolso cheio de bufunfa, numa operação dita “privada” absolutamente inexplicável e inexplicada.
Por Reinaldo Azevedo



02/02/2011
 às 21:31

Ainda o Panamericano e outros riscos

Ainda sobre o Banco Panamericano, comenta aquele meu amigo economista — aquele que outro dia esfarelou o superávit primário de Guido Mantega aqui:
“Se o FGC (Fundo Garantidor de Crédito) tem menos recursos, significa que há menos garantias para os depositantes. Caso haja uma quebra grande, eles terão uma garantia menor do que teriam se o fundo não tivesse levado um chapéu. Não é, portanto, um custo aparente. Além disso, se houver outro problema, duvido que o FGC vá desempenhar o mesmo papel que desempenhou nesta crise. O próximo banco a quebrar vai cair no colo do… Banco Central!”
Pois é…  Por que o Panamericano mereceu tal privilégio?
Por Reinaldo Azevedo



02/02/2011
 às 21:52

PPS pede convocação de Silvio Santos e presidente do BC para falar sobre Panamericano

No Uol:
O líder do PPS na Câmara dos Deputados, o deputado federal Rubens Bueno (PR), anunciou nesta quinta-feira (2) que irá pedir na próxima semana, em nome de seu partido, a convocação dos presidentes do Banco Central, Alexandre Tombini, da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Coelho, do Banco BTG Pactual, André Esteves, e do empresário Silvio Santos para explicarem ao público e ao Congresso Nacional a ajuda da Caixa ao banco PanAmericano e a venda dele ao Pactual.
Bueno afirma que quer entender por que a Caixa investiu em um banco com problemas financeiros e questiona se há alguma relação entre a ajuda do banco ao PanAmericano (agora vendido ao Pactual) e o fato do Pactual ter doado R$ 2,15 milhões para as campanhas eleitorais do PT e da presidente Dilma Rousseff.
“Não estou dizendo que há irregularidades na doação, mas as coincidências se acumulam ao longo do tempo”, afirmou o deputado da oposição.
O Pactual anunciou a compra da totalidade das ações do Grupo Silvio Santos no PanAmericano por R$ 450 milhões no início desta semana. A venda da instituição financeira ocorreu poucos meses depois de ter sido identificada a fraude no banco que resultou em prejuízos de cerca de R$ 4 bilhões.
Por Reinaldo Azevedo