quarta-feira, 6 de abril de 2011

Afeganistão - Ataques e a Liberdade de Expressão


Afeganistão tem 6º dia de protestos contra queima do Alcorão
06 de abril de 2011  15h09  atualizado às 15h51

Em torno de 2 mil pessoas protestaram nesta quarta-feira no Afeganistão, pelo sexto dia consecutivo, contra o episódio de queima do Alcorão nos Estados Unidos, segundo fontes locais e policiais.
"Em torno de 1,5 mil pessoas protestaram em Qalat", capital da província de Zabul, disse à AFP o governador adjunto, Mohamad Khan Rasulyar.
"A manifestação terminou de forma pacífica", completou.
Na província de Nimroz, sudoeste do Afeganistão, "centenas de moradores do distrito de Delaram" protestaram pacificamente, apesar de ter havido alguns incidentes com a polícia.
A queima de um exemplar do Alcorão por um pastor extremista americano em 20 de março passado, desatou desde sexta-feira uma onda de manifestações, às vezes violentas, em todo o país.
Ao menos 24 pessoas - entre elas sete estrangeiros funcionários da ONU - morreram e 140 ficaram feridos entre sexta-feira e domingo em Mazar-i-Sharif, a grande cidade do norte de Afeganistão, e Kandahar, a principal cidade do sul.
O presidente americano, Barack Obama, realizou uma videoconferência com o presidente afegão, Hamid Karzai, por conta da violência desatada no Afeganistão devido à queima do Alcorão, informou a Casa Branca nesta quarta-feira.
04/04/2011
 às 6:31

Ignorantes de bom coração. Ou: quem pode queimar o quê?

A quantidade de besteira que o caso Bolsonaro vem suscitando é um espanto! A questão essencial, para mim, já disse, diz respeito à liberdade de expressão. Por mais detestáveis que sejam as suas opiniões, fazer o quê? A liberdade existe também para pessoas que dizem coisas detestáveis. Citei aqui o caso da Igreja de lunáticos nos EUA que invade velórios de soldados americanos que serviam no Iraque e no Afeganistão para agradecer a Deus pelas mortes: seriam punições porque os EUA são condescendentes com o homossexualismo!!! Pode? A Suprema Corte diz que sim! Um pastor decidiu queimar um exemplar do Corão, e o Taliban usou isso como pretexto para desencadear atos terroristas. Há gente por aqui achando que é tudo culpa do… pastor! Em breve, vamos ter de perguntar aos clérigos afegãos o que se pode desenhar, queimar, falar ou pensar no Ocidente. Além de politicamente corretos, teremos de ser “islamisticamente” corretos. A tese seria mais ou menos esta: a era das liberdades individuais esgotou o seu ciclo de virtudes. Vão se danar!!!
Eu acho correto ou aceitável que se perturbem velórios ou se queimem livros religiosos? Eu não! Essa gente é asquerosa! E daí? Mas não reconhecerei os sectários islâmicos do Afeganistão como tribunal competente para decidir o que se pode ou não se pode fazer no Ocidente!
Aos cretinos salta-pocinhas do multiculturalismo chinfrim, lembro que a liberdade que queima livros imprime milhões de livros. No Afeganistão, onde não se imprimem livros, só não se pode queimar um livro!
Voltemos a Bolsonaro.  Vamos botar a bola no chão. Vão querer puni-lo segundo a lei ou vão querer puni-lo “porque a gente não gosta dele, e faz tempo que merece uma lição”? Vão querer puni-lo segundo o estado de direito ou segundo a discricionariedade das “pessoas boas”? Digamos que seja segundo o “estado de direito”, já que o Brasil, por enquanto, é uma democracia.
No caso da acusação de homofobia, o caso está sendo superdimensionado porque existe aí uma agenda: aprovar a tal lei. Se alguém acha Bolsonaro “fascistóide”, é porque não leu o texto. O deputado diz lá as suas besteiras, mas não tenta mandar ninguém para a cadeia. Já aquilo que pretendem aprovar pode meter um sujeito em cana por expressar uma simples convicção religiosa contrária à prática homossexual.
Muito bem: ninguém pode ser punido, senhores apressadinhos, a não ser na forma da lei. E inexiste uma lei que caracterize a “homofobia”. Bolsonaro parece que não aceitaria filhos gays; acha que não correria o risco de tê-los; sugere até que uns bons petelecos na hora certa corrijam o “desvio”… São idéias, assim, “pterodáctilas”? São, sim! Mas existem pessoas assim no mundo! Devem ser encarceradas por isso? Aí o sujeito ainda mais apressado diz: “Ah, te peguei no argumento, Reinaldo! Então é por isso que precisamos ter a lei”! Vocês acham mesmo que uma lei que proibisse Bolsonaro de dizer essas coisas faria o Brasil ser mais democrático?
Então vamos ver: por homofobia, dada a inexistência de lei — vejam que ainda não toquei na imunidade parlamentar —, não haveria como puni-lo. Resta a acusação de racismo.
“Racismo” não é o que eu considero “racismo”, mas aquilo que a lei tipifica como tal. Mesmo que Bolsonaro não tivesse se enganado na resposta que deu a Preta Gil — e eu acho que ele se enganou; basta ver que o vocabulário empregado não se coaduna com a pergunta —, seria preciso dizer que artigo da lei ele transgrediu. Já tratei do assunto aqui. Não acho que seja o caso.
Atenção! Se a gritaria contra Bolsonaro estivesse circunscrita ao repúdio àquilo que ele disse, eu teria escrito aqueles meus dois primeiros textos, em que o desanquei, e parado. Mas não! Decidiram levar a questão para o terreno legal, para o questionamento sobre os limites da liberdade de expressão, para a relativização da imunidade parlamentar. Aí a coisa mudou muito de figura! Aí estão querendo combater opiniões particularmente boçais com a generalização da boçalidade antidemocrática.
“Então um parlamentar pode defender o homicídio, a pedofilia, o roubo?” Não! Não pode, não! A pergunta é burralda porque, além de tais práticas estarem devidamente categorizadas como crimes, haveria a questão do decoro, que um parlamentar não pode transgredir nem no uso da imunidade. “Ah, mas o racismo também tem uma lei que o pune”. É fato! Mas será preciso, antes, provar que houve racismo, entenderam? Provar segundo a lei, não segundo o fígado dos que não gostam do cara porque ele se opõe a cotas raciais, por exemplo.
“E o terrorismo? Um parlamentar pode defender o terrorismo em nome da liberdade de expressão?” Então… A Constituição diz que o terrorismo também é crime inafiançável e imprescritível e que será punido na forma da lei. Se o animal em questão for hábil o bastante para fazer uma defesa genérica, sem especificar atos que possam estar categorizados em leis específicas, será difícil puni-lo — a não ser por quebra de decoro. É que não temos, no Brasil, a lei que pune o terrorismo. Por essa razão, inclusive, há um monte de terroristas livres, leves e soltos, operando alegremente no Brasil, conforme fica claro da reportagem de capa da VEJA desta semana. A propósito: já se publicou resenha de livro na imprensa brasileira defendendo o terror. Ninguém protestou! Ou melhor: eu protestei!
Há várias formas de debater essa questão, inclusive a honesta e a desonesta. A desonesta tenta confundir a defesa da liberdade de expressão e da imunidade parlamentar com o endosso às besteiras que Bolsonaro diz. A honesta distingue a preservação de direitos fundamentais, inegociáveis, do conteúdo tacanho que o exercício desses direitos pode trazer à luz. Debate parecido se viu na questão do Ficha Limpa. Aprovou-se uma lei escancaradamente inconstitucional em nome do bem, e, depois, tentou-se pespegar nos defensores da Constituição a tacha de lenientes com a corrupção.
Infelizmente, boa parte dessa confusão é feita por jornalistas, que não vêem mal nenhum em propagar a ignorância, desde que seja de bom coração.
PS - Esse escarcéu todo só está em curso por aqui porque há a cultura de recorrer ao “papai Estado” para punir os meninos maus, que fazem aquilo de que a gente não gosta… Nos EUA, por exemplo, seria absolutamente impensável a hipótese de cassar um parlamentar porque ele expressou opiniões consideradas incômodas, idiotas ou incorretas. E olhem que aquela é a pátria do politicamente correto. Mas lá deixam o embate para a sociedade.
Por Reinaldo Azevedo

Nenhum comentário:

Postar um comentário