sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Pimentel, o mercantilista




Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

A matéria de capa do caderno de Economia do jornal O Globo hoje fala do “alívio para os exportadores” que o governo pretende promover. O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, vai sugerir ao Itamaraty a criação de um grupo interministerial voltado ao monitoramento das relações com a China, atualmente o maior parceiro comercial do Brasil. A fala do ministro remete ao linguajar militar, típico dos mercantilistas, que encaram o comércio como uma batalha.

Como todo mercantilista desde Colbert, a obsessão de Pimentel com o saldo comercial é impressionante. O ministro diz que “precisamos recuperar a tendência de crescimento do saldo comercial”. Para os mercantilistas, exportar é bom, mas importar é ruim. Comércio é visto como um jogo de soma zero. O curioso é que se todos pensassem assim, a conta não teria como fechar. Afinal, a importação de um país é a exportação de outro. Na verdade, a tendência natural seria de saldos comerciais negativos para países emergentes, uma vez que saldos positivos significam que este país está exportando sua escassa poupança doméstica (os chineses hoje exportam capital para sustentar os consumidores americanos).

Um país como o Brasil, que foi agraciado por um enorme aumento em seus termos de troca, fruto da fome insaciável da China pelas commodities que produzimos, deveria usar a apreciação cambial para importar os bens de capital necessários para a modernização de seu parque industrial. Importar não é necessariamente algo ruim. O problema é que o setor industrial perde competitividade vis-à-vis a China, e não somente por conta da moeda artificialmente depreciada dos chineses. Pagamos impostos altos demais, a burocracia é asfixiante, os juros são elevados por causa dos explosivos gastos públicos, as leis trabalhistas são draconianas para as empresas, a mão-de-obra não é qualificada e a infra-estrutura é precária.

Como se pode notar, nossos reais problemas são todos estruturais. É louvável o governo adotar medidas que desonerem o setor produtivo exportador, mas o fundamental seria atacar as verdadeiras raízes dos nossos males. Em vez de usar o BNDES para selecionar as empresas ‘vencedoras’ e garantir subsídios pagos pelos “contribuintes”, o governo tinha que realizar as necessárias reformas estruturais, e depois deixar que o próprio mercado se ajuste com base nas vantagens competitivas nacionais. O liberalismo, enfim, representa um caminho muito mais sábio e sustentável que o mercantilismo do atual governo.

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